Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.
Essas palavras aparecem duas vezes nas escrituras. A mais conhecida é a ocasião em que Jesus Cristo as pronuncia na cruz do Calvário prestes a morrer. Em uma oração de entrega, rendendo-se ao Pai, o Filho de Deus balbucia essas palavras em meio aos esforços excruciantes do último suspiro. Interessante o fato de Jesus escolher essas palavras como suas últimas. Na verdade elas foram originalmente pronunciadas por Davi no Salmo 31 – em um dos escritos categorizados pelos estudiosos como escritos messiânicos. Uma leitura rápida do salmo revela um rei que sofre perseguições de seus inimigos, sente-se sozinho, abandonado e sob a espreita das más línguas, mas em um esforço de fé entrega-se confiantemente ao Deus à quem atribui sua salvação, entregando-lhe o espírito – uma expressão equivalente a: Minha vida está em tuas mãos. Essa expressão de rendição e entrega – Nas tuas mãos entrego meu espírito – tornou-se uma expressão comum, recitada pelas crianças israelitas antes de adormecerem.
Entretanto a relação entre as duas passagens é inequívoca, Jesus replicou a oração do rei Davi como sua última oração ao Pai. Qual seria, portanto, a exata natureza dessa relação? Creio existirem duas possíveis explicações para a ligação desses textos.
A primeira é que Davi, em sua sincera oração, expressou antecipadamente os sentimentos que Jesus Cristo sentiria séculos mais tarde. Em uma epifania profética, o rei de Israel estaria anunciando em suas próprias emoções e verbalizando em forma de oração, guardadas as devidas proporções, a mesma natureza das emoções que cerceariam o coração do Deus-homem – Jesus de Nazaré. A segunda possível interpretação, é que Jesus ao sofrer na cruz, tomou emprestadas as palavras de Davi para expressar seus sentimentos de agonia. Como se não houvesse palavras melhores para dizer naquele momento de dor.
Seja qual for a verdadeira relação entre os textos, ambas as possibilidades revelam mais um dos muitos motivos que fazem de Davi um homem segundo o coração de Deus.
Se foi uma antecipação profética da dor do Messias, ele certamente possuía uma profunda intimidade com Deus a ponto de receber do alto tal demonstração da angustia que o Deus encarnado sofreria. Se foi Jesus quem simplesmente se utilizou das palavras de Davi, isso também evidencia uma relação íntima o suficiente com Deus a ponto de suas orações serem usadas para traduzir o que o próprio Cristo queria dizer ao Pai na hora de sua morte.
A questão toda é a capacidade maravilhosa de Davi de se conectar com Deus em um nível tão profundo. Tenho minhas dúvidas se Davi sabia que estava fazendo uma oração messiânica, creio que não. Não acredito que ele tinha percepção que aquela oração seria a oração do próprio Filho de Deus no momento mais importante da história. Não. Davi só estava orando. Rasgando seu coração cheio de cicatrizes, expondo suas feridas e sua sensação de abandono, oscilando entre fé e dúvida, entre medo e esperança, entre ódio e amor. No mesmo salmo em que diz: “Tornei-me opróbrio para todos os meus adversários, espanto para os meus vizinhos, e horror para os meus conhecidos...” diz também: “Em ti Senhor, me refugio; jamais seja eu envergonhado.” E o mais notável é que mesmo quando ora com o coração cheio de dor e até mesmo do ressentimento tão peculiar à alma humana, sua oração ecoa pelas gerações. Mesmo atolado em angústia, sua oração se torna a oração de todo coração aflito, desde as crianças indefesas ao adormecerem, até o próprio Filho de Deus diante do sono da morte.
Quisera eu saber orar assim. Quisera eu saber traduzir os rancores do meu enganoso coração em expressões de entrega a serem copiadas através das gerações. Quisera eu ouvir mais orações assim no meio da luta. Quisera eu ouvir menos lamúrias infundadas, ou determinações arrogantes dos que querem tomar o céu a força e dobrar violentamente o braço de Deus em seu favor. Quisera eu ouvir e dizer as mesmas palavras de Davi, das crianças israelitas e de Jesus ao final dos relatos do sofrimento: Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito! E então dormir em paz.
Entretanto a relação entre as duas passagens é inequívoca, Jesus replicou a oração do rei Davi como sua última oração ao Pai. Qual seria, portanto, a exata natureza dessa relação? Creio existirem duas possíveis explicações para a ligação desses textos.
A primeira é que Davi, em sua sincera oração, expressou antecipadamente os sentimentos que Jesus Cristo sentiria séculos mais tarde. Em uma epifania profética, o rei de Israel estaria anunciando em suas próprias emoções e verbalizando em forma de oração, guardadas as devidas proporções, a mesma natureza das emoções que cerceariam o coração do Deus-homem – Jesus de Nazaré. A segunda possível interpretação, é que Jesus ao sofrer na cruz, tomou emprestadas as palavras de Davi para expressar seus sentimentos de agonia. Como se não houvesse palavras melhores para dizer naquele momento de dor.
Seja qual for a verdadeira relação entre os textos, ambas as possibilidades revelam mais um dos muitos motivos que fazem de Davi um homem segundo o coração de Deus.
Se foi uma antecipação profética da dor do Messias, ele certamente possuía uma profunda intimidade com Deus a ponto de receber do alto tal demonstração da angustia que o Deus encarnado sofreria. Se foi Jesus quem simplesmente se utilizou das palavras de Davi, isso também evidencia uma relação íntima o suficiente com Deus a ponto de suas orações serem usadas para traduzir o que o próprio Cristo queria dizer ao Pai na hora de sua morte.
A questão toda é a capacidade maravilhosa de Davi de se conectar com Deus em um nível tão profundo. Tenho minhas dúvidas se Davi sabia que estava fazendo uma oração messiânica, creio que não. Não acredito que ele tinha percepção que aquela oração seria a oração do próprio Filho de Deus no momento mais importante da história. Não. Davi só estava orando. Rasgando seu coração cheio de cicatrizes, expondo suas feridas e sua sensação de abandono, oscilando entre fé e dúvida, entre medo e esperança, entre ódio e amor. No mesmo salmo em que diz: “Tornei-me opróbrio para todos os meus adversários, espanto para os meus vizinhos, e horror para os meus conhecidos...” diz também: “Em ti Senhor, me refugio; jamais seja eu envergonhado.” E o mais notável é que mesmo quando ora com o coração cheio de dor e até mesmo do ressentimento tão peculiar à alma humana, sua oração ecoa pelas gerações. Mesmo atolado em angústia, sua oração se torna a oração de todo coração aflito, desde as crianças indefesas ao adormecerem, até o próprio Filho de Deus diante do sono da morte.
Quisera eu saber orar assim. Quisera eu saber traduzir os rancores do meu enganoso coração em expressões de entrega a serem copiadas através das gerações. Quisera eu ouvir mais orações assim no meio da luta. Quisera eu ouvir menos lamúrias infundadas, ou determinações arrogantes dos que querem tomar o céu a força e dobrar violentamente o braço de Deus em seu favor. Quisera eu ouvir e dizer as mesmas palavras de Davi, das crianças israelitas e de Jesus ao final dos relatos do sofrimento: Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito! E então dormir em paz.
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