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quinta-feira, 9 de maio de 2013

A guerra pelo Entorno de Brasília


A guerra pelo Entorno de Brasília
Como em 2010, região promete ser decisiva para o resultado do pleito de 2014. Características próprias transformam a busca de votos em ‘faroeste eleitoral’


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A região conhecida co­mo Entorno de Brasí­lia vive contrastes interessantes. Enqua­nto é uma das áreas do Estado mais carentes em infraestrutura, também concentra uma grande quantidade de habitantes, atraídos por oportunidades na capital federal. Quase sempre esquecido durante as administrações estaduais, o Entorno recebe atenção especial de políticos com projetos eleitorais, pelas características próprias da região. Os trabalhos visando o pleito de 2014 já começaram e a disputa promete ser bastante acirrada.
Por ser uma região onde a população vive mais a realidade do Distrito Federal do que propriamente a de Goiás, entender como age o eleitorado do Entorno é um desafio. Nos últimos anos, a base aliada do governador Marconi Perillo (PSDB) se mostrou mais apta a desvendar este quebra-cabeça, já que ali o tucano colecionou vitórias importantes em eleições passadas. A oposição, porém, parece ter acordado para a importância eleitoral da região após a derrota de 2010. Aproveitou o bom momento da presidente Dilma Rousseff (PT) e expandiu seu espaço nas eleições municipais de 2012.
A importância política e eleitoral do Entorno pode ser traduzida em números. Com 19 municípios (veja quadro), a região concentra pouco mais de um milhão de habitantes e, dentre estes, mais de 600 mil eleitores. Além disso, o Entorno tem quatro cidades entre os dez maiores colégios eleitorais do Estado. Luziânia é a quarta maior cidade em número de eleitores em Goiás, com Águas Lindas, Valparaíso e Formosa ocupando a oitava, nona e décima colocação, respectivamente.
Por causa de tudo isso, tanto a base aliada como a oposição já tem estratégias definidas para atingir os seus objetivos nas eleições de 2014. O governador confia em aliados históricos como o ex-prefeito de Luziânia e atual presidente da Agência Goiana de Esportes e Lazer (Agel), Célio Silveira (PSDB), a deputada estadual Sônia Chaves, e a ex-prefeita de Valparaíso de Goiás, Lêda Borges (PSDB), que atualmente presidente da Agência Goiana de Desenvolvimento Regional (AGDR).
Já a oposição conta com trunfos políticos. O bom desempenho em 2012, quando conquistou a prefeitura de cidades como Valparaíso de Goiás e Novo Gama, dá fôlego para o grupo na região. A forte influência que o PT tem no Entorno, devido os governos de Dilma Rousseff e, em menor escala, do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiróz, também contribui para o fortalecimento da oposição nos municípios fronteiriços a Brasília.
Para conseguir prestígio, porém, os dois grupos rivais terão que saber lidar com as peculiaridades da região, que é mais influenciada por Brasília do que por Goiânia. Problemas com segurança pública, saúde, saneamento básico e transporte público, principalmente, deixam a população vulnerável, o que pode influenciar também os rumos da eleição. As lacunas na infraestrutura e a descrença pela falta de soluções dificultam a fidelização do eleitorado e transformam a busca de votos na região em um verdadeiro ‘faroeste eleitoral’.
Disputa
Em 2010, Marconi provou sua força na região (leia abaixo). Hoje, porém, há uma sombra sobre o governador na região. “É uma região que foi base muito forte do atual governador. Em virtude de todos os escândalos, da falta de ações administrativas e de investimentos, hoje é um região que mostra um viés muito mais oposicionista do que situacionista”, garante o ex-secretário de Segurança Pública do governador Alcides Rodrigues (PP), Ernesto Roller (PMDB).
O peemedebista é um dos nomes mais representativos da oposição no Entorno. Em 2012, ele disputou a prefeitura de Formosa, sendo derrotado por um aliado do governador na região, o ex-deputado estadual Itamar Barreto (PSD). Apesar da derrota, o peemedebista saiu fortalecido, tendo perdido por pouco mais de três mil votos.
Roller é taxativo ao apostar no enfraquecimento do governador na região. “Há uma clara percepção de que a força dele diminuiu consideravelmente. Percebemos isso nos protestos, na descrença do eleitor, na vontade de mudar. O atual governador perdeu força e musculatura política, mas, sobretudo, vive um desgaste muito grande”, analisa .
A perda de musculatura a que se refere o peemedebista foram as derrotas da base aliada nas eleições municipais em cidades importantes. Em Valparaíso de Goiás, a ex-prefeita Leda Borges (PSDB) tentava a reeleição, mas foi derrotada pela petista Professora Lucimar. Já a deputada Sônia Chaves buscava voltar ao comando de Novo Gama, porém foi superada pelo candidato do PPL, Everaldo do Detran.
Além disso, em outras cidades, os aliados do governador não conseguiram fazer sucessor. Célio Silveira, que foi deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, não obte­ve sucesso na tentativa de emplacar um aliado em Luzi­ânia. O ex-deputado Cristó­vão Tormin (PSD), aliado de Mar­coni, mas rival de Célio no mu­ni­cípio, venceu o páreo. Ainda assim, o tucano, que assumiu a presidência da Agel no início do ano, acredita na força do governador no Entorno.
“O governador continua numa situação muito boa na região. Tenho certeza que ele vai ter uma grande vitória em 2014, estamos trabalhando para isso. Além das obras, além da presença, tem o grupo político dele que é muito forte na região”, defende Célio. Segundo o tucano, a força do governador na região é fruto de uma atenção especial dada por ele desde 1998, quando venceu a primeira eleição para o governo.
A opinião de Célio é compartilhada pela deputada estadual Sônia Chaves, outra aliada do governador na região. Ela, que foi derrotada na luta pela prefeitura de Novo Gama, também não vê diminuição na força de Marconi na região. “Ele foi o primeiro a dar atenção ao Entorno, enquanto todos os outros governos deixaram a região abandonada. Hoje, mesmo com todas as dificuldades, ele continua com os olhos voltados para lá”, garante.
Dúvidas
Tanto oposição como situação ainda esperam aumentar o número de aliados na região. Isso porque há prefeitos que ainda não decidiram alinhamento, como é o caso de Zé Neto (PSC), em Planaltina. Além disso, em outros casos, as alianças feitas para a eleição municipal deixam prefeituras divididas.
Esse é o caso de Luziânia, onde o atual prefeito Cristóvão Tormin (PSD) é integrante da base aliada, mas tem como vice Didi Viana (PT). Além disso, o pessedista foi apoiado por outras lideranças de oposição, como o ex-deputado federal Marcelo Melo (PMDB), que foi vice na chapa do ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB), candidato ao governo em 2010.
Sobre isso, Didi Viana diz respeitar a relação entre Tormin e o governador, mas não abre mão de participar do projeto de oposição para 2014. “A gente espera que ele tenha respeito e teremos uma convivência harmônica. Não podemos abrir mão de participar da eleição, pois o PT tem histórico na região. Temos aqui a vereadora Cristiana Tormin (PT) que tem compromisso com o projeto de mudança em Goiás”, explica o petista.
Em outras cidades, o problema é administrativo. Em Cristalina, o prefeito Luiz Carlos Attié (PSD) também integra a base aliada do governador Marconi Perillo, mas estaria insatisfeito com a falta de ações da administração estadual. Há alguns meses, o pessedista teria até participado de um encontro regional realizado pelo PMDB na cidade, tecendo críticas ao governo. No município, os peemedebistas fazem parte da administração de Attié.

Região foi vital na eleição de 2010
A força do governador Marconi Perillo no Entorno do Distrito Federal foi determinante para a vitória em 2010. Naquela eleição, ele recebeu um total de 242.233 votos nos 19 municípios da região, enquanto o adversário, o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB), contabilizou 143.799, resultando numa diferença de 98.434 votos favoráveis ao tucano.
A importância da votação para a vitória fica mais evidente quando se analisa a diferença total de votos entre o tucano e o peemedebista. Marconi foi eleito com 174.944 votos a mais do que Iris, o que significa que a votação no Entorno foi responsável por aproximadamente 56% do saldo positivo do atual governador.
Na eleição de 2014 para o governo, a expectativa é que, mais uma vez, a região seja decisiva. A prova disso é o crescimento do eleitorado nos últimos cinco anos, entre janeiro de 2008 e 2013. No período, o número de eleitores em Goiás cresceu quase 9%, enquanto em municípios da região, como Valparaíso e Águas Lindas, a taxa foi de 36% e 31%, respectivamente. Das 19 cidades, 14 apresentaram evolução maior que a média estadual.
De olho nisso, o governo do Estado já prepara ações específicas para a região. Relançado há 15 dias, o Go­verno Itinerante terá edições no Entorno até o final de 2013. Já no próximo mês, Águas Lindas será sede do evento, que serve para aproximar a administração da sociedade.
A oposição, por sua vez, aposta mesmo no crescimento experimentado nas eleições municipais e na proximidade do governo federal e distrital. “O governador Agnelo já começa a viabilizar sua reeleição, o que é muito bom para nós. Consi­derando que PT e PMDB estarão juntos, não poderia haver cenário melhor para nós”, analisa Didi Viana. (D.G.)
FONTEtribunadoplanalto

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