Nunca acreditei que estivesse morto', diz mãe que esperou 38 anos para reencontrar filho sequestrado no DF
Mulher deixou bebê com funcionários de abrigo e, ao voltar, não o encontrou. Suspeitos disseram que criança estava morta; entenda.
Por Marília Marques, G1 DF
Sueli Gomes Rochedo, de 56 anos, teve o filho sequestrado na porta da maternidade em 1981 — Foto: Divulgação
A moradora do Distrito Federal que teve o bebê sequestrado na porta da maternidade pública do Gama, em 1981, contou ao G1 que nunca perdeu as esperanças de reencontrar o filho.
Depois de 38 anos de espera, a Polícia Civil do DF localizou nesta semana Luiz Miguel, no estado da Paraíba. O exame de DNA comprovou que o rapaz é o filho raptado de Sueli Rochedo, de 56 anos. Hoje, ele está registrado com o nome de Ricardo Araújo.
"Não acreditava que ele estivesse morto."
Até a manhã de sexta-feira (26), mãe e filho não tinham se visto pessoalmente. A previsão é que o primeiro encontro ocorra na próxima semana, após quase quatro décadas.
Desaparecimento
Sueli contou que na época, aos 18 anos, morava em um orfanato no Guará. Em 9 de fevereiro de 1981, ela foi ao Hospital Regional do Gama para dar à luz ao seu segundo filho.
No dia seguinte, quando recebeu alta médica, a jovem saiu acompanhada por dois funcionários do abrigo, que a convenceram a deixar a criança com eles.
A vítima afirmou que foi até um orelhão a 20 metros do hospital e que se ausentou por apenas três minutos. Ao voltar, não encontrou mais a criança.
"No banco de trás do carro, tinha uma senhora com lenço na cabeça. Quando voltei, ela e meu filho não estavam mais lá."
Sueli disse que perguntou aos funcionários sobre o filho desaparecido, mas que foi obrigada pela dona do orfanato a "permanecer calada e a não tocar mais no assunto". Dias depois, a mulher suspeita afirmou que o bebê havia morrido.
"Era um mix de sentimentos. Uma pessoa em que eu acreditava dizia que ele morreu, mas pensava: ele tinha morrido de quê?".
Durante esse período, a moradora do DF contou que foi levada diariamente a farmácias da região para tomar remédios que fizessem o leite secar. Apesar do sofrimento, a vítima afirmou que não guardou mágoas pelo que ocorrido.
"Pela luz do céu, não sinto ressentimento. A gente só dá o que tem. Mesmo jovem, não permiti que o que eu tinha passado me transformasse em uma pessoa ruim."
Investigação
Passados 32 anos do desaparecimento do filho, a vítima decidiu registrar o rapto na delegacia do DF, onde começou a investigação. Segundo a polícia, a principal suspeita – a dona do abrigo – morreu em 2012, antes que Sueli Rochedo registrasse ocorrência.
Na época, a Polícia Civil tinha, pelo menos, 15 linhas de investigação. Uma delas levou os agentes a entrar em contato com o porteiro do médico que fez o parto da jovem, no hospital do Gama.
Em depoimento, ele disse que registrou a criança em 11 de fevereiro, dois dias após o nascimento de Ricardo. O homem não informou à polícia como recebeu o bebê e nem se houve participação do médico no sequestro.
Como na época o registro indevido de criança não era considerado crime, o caso foi arquivado e o porteiro não respondeu criminalmente. O delegado Murilo de Oliveira – responsável pelo caso – informou que não encontrou registro de nascimento da criança no hospital do Gama.
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