Eugênio Aragão cometeu o seu primeiro erro como ministro da Justiça ao dizer, em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", que pode interferir numa investigação, trocando todo mundo, se houver “cheiro de vazamento” de delegados federais. A ameaça foi entendida como sendo dirigida à Lava Jato.

A investigação começou com apenas dois policiais que perceberam a importância e a dimensão dos crimes cometidos na Petrobras e se transformou em um núcleo forte, cujo trabalho tem grande apoio da opinião pública. Aragão não está avaliando bem a reação que haveria no país caso ele quisesse, por algum motivo, trocar toda a equipe da investigação. 

A equipe da PF na Lava Jato, assim como a do Ministério Público, tem conhecimento do caso que dificilmente outra atingiria. Se isso ocorrer, seja por vazamento ou não, atrasam as investigações contra o PT, mas também contra o PMDB e o PSDB e todos as outras forças políticas implicadas. A nova hipotética equipe iria certamente demorar mais para ligar os pontos de uma investigação tão complexa.

Seria, na verdade, um atraso contra o combate a corrupção como um todo no país, assunto tão caro aos brasileiros hoje. A luta contra a corrupção é um fator motivador de parte expressiva da população que vai às ruas em favor do impeachment e contra o governo. Nesta sexta (18), os protestos pró-governo também deram importante recado.

No dia da nomeação de Aragão, antes dos áudios interceptados na 24ª etapa da Lava Jato, escrevi aqui que o nome de Aragão agrada aos petistas e que, como procurador eleitoral, ele tomou decisões consideradas importantes para o partido que governa o país. Nas escutas, isso se confirmou. O próprio ex-presidente Lula afirmou que Aragão parece ser amigo, mas está sempre dizendo ‘olha’. 

Nesses dois anos, a Lava Jato recuperou R$ 3 bilhões, uma dimensão inédita na história do país. Ao dar as declarações ao jornalista Leandro Colon, Aragão afirmou que "cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será trocada, toda". "Não preciso ter prova. A Polícia Federal está sob nossa supervisão”, afirmou. Veja bem, se não precisa ter prova, qual o critério afinal para que esta troca aconteça? Uma coisa é certa. É bom para o país saber a visão do ministro da Justiça em relação ao direito à defesa e ao contraditório.
fonte g1