Conheça João Santana e as acusações que pesam sobre ele
Responsável pelas campanhas da presidente Dilma Rousseff (2010 e 2014) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2006), o marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, a jornalista Mônica Moura, tiveram prisão decretada nesta segunda-feira dentro da operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção, distribuição de propina e lavagem de dinheiro envolvendo empresas públicas, empresários, políticos e partidos brasileiros.
Santana e Mônica não foram presos porque estão na República Dominicana, onde fazem a campanha à reeleição do presidente Danilo Medina. A Justiça promoveu ainda bloqueio de bens de Santana.
Antes de embarcar para o Brasil, Santana se desligou nesta segunda-feira da campanha eleitoral na República Dominicana. Ele enviou uma carta de demissão em caráter irrevogável ao comando do PLD, partido do presidente Danilo Medina, que tenta a reeleição, afirmando que retorna ao Brasil para cumprir o mandado de prisão e tratar de sua defesa. Diz na carta que o país vive um processo de perseguição e que a decretação de prisão não o surpreendeu, embora seja “difícil de acreditar”.
Segundo a Polícia Federal, o marqueteiro é acusado de ter recebido, através de offshores, US$ 7 milhões da Odebrecht e de um suposto operador de propinas, preso pela manhã. O mandado é de prisão temporária, cuja validade é de cinco dias podendo ser renovada por mais cinco dias ou ampliada para prisão temporária ou preventiva caso a Justiça considere necessário.
Denominada “Acarajé”, termo que, segundo a PF, os suspeitos usavam para se referir a dinheiro, a operação expediu mais de 50 mandados entre ordens de prisão, busca e apreensão nos Estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro.
Na Bahia, houve buscas em Salvador, onde o publicitário tem residência na região nobre do Corredor da Vitória, de frente para o mar. Já preso, o dono da construtora, Marcelo Odebrecht, também teve prisão decretada e terá de prestar novo depoimento em Curitiba, onde o juiz Sérgio Moro preside o processo. A operação envolveu 300 policiais federais.
- República Dominicana
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o operador financeiro Zwi Skornicki é investigado pela Lava Jato por ser um dos operadores de propinas a diretores e altos funcionários da Petrobras e empresas ligadas ao esquema de corrupção.
Entre 25 de setembro de 2013 a 4 de novembro de 2014, há evidências de que Zwi teria transferido U$ 4,5 milhões a uma conta do publicitário, em nome da offshore panamenha Shellbill Finance SA, que não foi declarada às autoridades brasileiras.
Já a Odebrecht teria transferido U$ 3 milhões por meio de duas offshores controladas pela construtora no Exterior (Klienfeld e Innovation) para a Shellbill. Os pagamentos foram feitos entre abril de 2012 e março de 2013. Para o MPF, os recursos repassados a Santana beneficiaram o Partido dos Trabalhadores.
Os advogados de João Santana e de Mônica Moura ingressaram com um documento junto à 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba informando que o casal retornará ao Brasil nas próximas horas para se apresentar às autoridades.
“Ambos se encontram no exterior a trabalho na República Dominicana, onde prestam serviços de marketing para o candidato à reeleição à Presidência naquele país, Danilo Medina”. Segundo o advogado Fábio Tofic, o documento foi encaminhado ao juiz Sérgio Moro.
“Os peticionários tomaram conhecimento, na manhã de hoje (segunda-feira), pelos meios de comunicação, de que foram alvo de fase ostensiva da operação Lava Jato”, diz a petição, que continua afirmando confiar “que serão tomadas todas as medidas para que sua chegada ao país não se transforme em um odioso espetáculo público”.
A Odebrecht divulgou nota confirmando que houve buscas e apreensão da Polícia Federal em escritórios do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. “As equipes da polícia obtiveram todo auxílio da Odebrecht para o cumprimento dos mandatos. A organização permanece à disposição das autoridades para colaborar, sempre que necessário”, afirma a construtora.
O PT ainda não se manifestou sobre o assunto.
O baiano João Santana é jornalista mas não gosta de dar entrevistas. No entanto, é vaidoso e não esconde as boas relações com o poder. Com 1,60 m, é considerado um gigante do marketing político. Pela América Latina e África, elegeu seis presidentes. Na República Dominicana, onde ficou sabendo que teve prisão temporária decretada, tenta reeleger Danilo Medina, a quem já garantira a vitória em 2012.
Em 2006, Santana ajudou Lula a garantir a reeleição. Elegeu Dilma em 2010, que até então tinha pouca projeção política. Na campanha de reeleição, em 2014, o marqueteiro foi acusado de maquiar a realidade econômica do país.
As campanhas de João Santana têm como características o uso de muitos cenários, figurantes e atores, o que encarece bastante suas produções. O marqueteiro não costuma destacar o vermelho do partido - para minimizar a rejeição de parte do eleitorado -, o que sempre irrita as alas mais radicais da legenda.
Quando a disputa se acirra, Santana é conhecido por campanhas de tom agressivo. A essa agressividade é creditada a derrota da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), em 2008, à prefeitura de São Paulo.
Naquela época petista de carteirinha e coração, Marta perdeu votos e aliados ao acusar o prefeito Gilberto Kassab em seu programa de TV lançado dúvidas sobre sua vida pessoal: “É casado? Tem filhos?”. Kassab foi reeleito. Em São Paulo, Santana só se redimiu com o PT local quando elegeu Fernando Haddad em 2012.
Em 2014, a polêmica foi com Marina Silva. A ex-petista não gostou da condução dos ataques da campanha do partido que havia ajudado a criar.
Defesa
Em conversa com jornalistas em Brasília, onde apresentou o programa de TV que vai ao ar nos próximos dias, o presidente do PT, Rui Falcão, voltou a afirmar que todas as doações da campanha da presidente Dilma Rousseff foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral. Falcão afirmou ainda que Santana não pode ser considerado “marqueteiro do PT” e que a denúncia “não diz nada” sobre o partido.
“Continuo defendendo direitos fundamentais de que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário”, disse Falcão, que emendou: “O PT não tem marqueteiro, contrata as pessoas pessoas para fazerem os programas (de TV)”. João Santana não é mais o publicitário responsável pelo horário político da legenda. Neste ano, o marketing está por conta de outro baiano, o dono da Link Propaganda, Edson Barbosa, que já socorreu o PT durante a crise do mensalão, em 2006.
Em seu balanço das buscas e apreensões, a PF afirmou ter apreendido carros de luxo, uma lancha e R$ 300 mil em reais e moedas estrangeiras.
FONTE G1
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