Avó passa fome, mora de favor e precisa de ajuda para cuidar dos cinco netos após morte da filha: 'Falta tudo'
Família dorme em um quarto e usa banheiro que fica fora da casa. Entre as crianças está Talita Souza, que sonha em comer carne: 'A gente tenta dormir para evitar a fome'.
Por Thais Barbosa, TV Anhanguera
Avó passa fome, mora de favor e precisa de ajuda para cuidar dos netos após morte da filha
JA 1ª Edição
Avó passa fome, mora de favor e precisa de ajuda para cuidar dos netos após morte da filha
A vida da catadora de materiais recicláveis Maria Rosa de Souza, de 54 anos, nunca foi fácil. Em fevereiro deste ano, ela sofreu um golpe duro e ainda não se recuperou, pois a filha morreu em um acidente de moto. Desde então, a mulher tem de cuidar dos cinco netos sozinha, no Setor Cidade Livre, em Aparecida de Goiânia. Sem ter como trabalhar, Maria Rosa diz que a família nem sempre tem o que comer.
"Já vivia com dificuldade. Com a chegada das cinco crianças ficou mais complicado ainda. Falta tudo, desde comida, roupas, móveis a eletrodomésticos", explica Maria Rosa.
A família vive com um salário mínimo por mês, ou seja, R$ 998. Eles vivem de favor em um barracão de dois cômodos, junto com um irmão de Maria, na Rua Nordeste. O banheiro é improvisado, fica do lado de fora da casa e não tem telhado. "No frio está difícil usar o banheiro, os meninos tremem de frio no banho e quando saem, não tem agasalho pra vestir", ressalta a idosa.
O desejo da avó é ter condições de criar os netos com mais dignidade. "A impressão que tenho é que tudo de ruim está acontecendo comigo. Eu queria ter condições de construir um quartinho para as crianças dormirem. Meu irmão é bipolar e não está dando certo dormir todo mundo no mesmo quarto", afirma Maria.
Maria Rosa de Souza tem de cuidar dos cinco netos após a morte da filha, em Aparecida de Goiânia — Foto: Thais Barbosa/TV Anhanguera
Sem comida
Na cozinha, apenas uma estante com um filtro de água e um fogão de quatro bocas que não funciona. Na prateleira tem poucas panelas, não tem prato nem talheres. "Ontem à noite fiz molho de chuchu e arroz pra eles comerem. Cozinho em um fogãozinho a lenha, ali de fora. Até fiz um chá de manhã para tentar esquentar porque não tem café da manhã pra eles", entristece a avó.
Talita de Souza, de 11 anos, é uma das netas da dona Maria e tem um sonho.
"Eu tenho muita vontade de comer carne de vez em quando. É difícil olhar para a dispensa e não ter nada. A gente até tenta dormir até mais tarde para evitar a fome", disse Talita.
O neto mais velho foi diagnosticado com desnutrição severa e precisa de dois complementos alimentares. "Antes eu conseguia pegar o leite dele de graça na prefeitura, mas agora não estou conseguindo. Aqui quase não tem o que comer e, quando tem, ele não come", afirma a avó.
Falta de roupas
As roupas que as crianças usam são ganhadas ou encontradas na rua. Nos dias frios, faltam cobertas e agasalhos.
"As meninas dormem juntas em um colchão no chão. Eu, meu neto e meu irmão dormimos na cama. A gente se cobre com um lençol, mas não tem agasalho pra todo mundo nem meias pra tentar esquentar os pés", explica a avó.
Durante um dia de trabalho, a Maria Rosa achou um armário de cozinha usado. É nesse armário que ela guarda as roupas. "Para você ver, esse armário é pequeno e cabe a roupa de todo mundo", ressalta a idosa.
Tratamento Psicológico
De acordo com Maria Rosa, os netos presenciaram o acidente da mãe. Por causa disso, vivem em profunda tristeza. As netas Gisele de Souza, 13 anos e Talita de Souza, 11 anos estão em tratamento no Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) de Aparecida de Goiänia.
"Elas se sentem culpadas pelo acidente da mãe. É que a minha filha subiu na mobilete e pediu pra minha neta empurrar, porque a mobilete não queria pegar. A minha neta empurrou e minha filha perdeu o controle da moto. Não conseguiu frear e acabou batendo no muro. Foi uma fatalidade", explica Maria.
A idosa não teve tempo de se recuperar da dor de perder a filha e vive o desafio de criar os netos. "Eu sinto muita falta da minha filha. Era uma companheira pra mim. Eu quero dar o melhor para os meus netos, mas não tenho mais forças para trabalhar. Está difícil", desabafa.
FONTE G1
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