Blog do Ernani de Paula
Empresário, ex-prefeito de Anápolis (GO) e sempre atento à política
A falta de prioridades do MEC para gerir a Educação nacional
Em uma nota de registro tímida e acanhada, a Folha de S. Paulo informa ao Brasil uma decisão no mínimo polêmica e que, na análise de quem vive a realidade da Educação Nacional há mais de três décadas, soa como uma lamentável afronta no que podemos chamar de falta de prioridade no desenvolvimento da Educação no Brasil. As informações dão conta de que o Ministério da Educação firmou uma parceria com diversos países do continente africano com o objetivo de investir no ensino superior em alguns países.
O projeto prevê financiamentos do MEC para que universidades brasileiras abram frentes de trabalho nos países a fim de desenvolver o ensino na região. Até o momento, vinte universidades nacionais, entre elas Universidade de São Paulo e a Universidade Federal de Minas Gerais, enviarão professores e pesquisadores para instituições de cinco países africanos e um asiático, todos de língua portuguesa. Nossos professores e nossa estrutura será instalada em países de língua portuguesa como Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe.
A idéia, inicialmente, tem como pretexto a Educação para inserir nestes países um conceito de proximidade comercial e cultural. Tudo isto pode a médio e longo prazo otimizar as relações de exportação e a abertura de novos mercados para o Brasil nestas regiões. Seria a ideia perfeita, caso nós, brasileiros, fossemos minimamente atendidos no padrão educacional dentro de nossas cercanias. No entanto, com a realidade que enfrentamos, esta ação soa como um assombro, uma ofensa e, em última análise, uma demonstração da falta de prioridades do MEC para a realização de um projeto que gere excelência no ensino brasileiro.
A reportagem da FSP dá conta que, por meio da Capes, serão financiados 45 projetos, que custarão R$ 6 milhões – pouco menos de 10% do que a pasta deve gastar neste ano com bolsas para alunos nas universidades brasileiras. Este dado, em nossa avaliação, não soa como um “negócio em conta”, mas ao contrário: como a perda de oportunidade de reinvestirmos 10% mais na expansão da nossa rede de bolsas para brasileiros.
Enquanto o MEC adota uma política expansionista, reinventando o que pode-se chamar de uma Campanha das Grandes Navegações para a Educação, nós ainda padecemos de investimentos, muitas vezes, em quesitos básicos, primordiais para o desenvolvimento educacional. Há universidades lutando pela sobrevivência, há cursos claudicantes. Isto sem falar nas faculdades e universidades privadas.
Falo, agora, como gestor de uma das mais tradicionais instituições de São Paulo, com mais de 40 anos de existência, cujas dificuldades de gestão foram somente pioradas com a intervenção do MEC. Agora, receber a informação de que enquanto lutamos para educar e nos mantermos no mercado educacional brasileiro, o mesmo MEC atua para beneficiar mercados internacionais e desenvolver o ensino em países africanos.
Em meio à necessidade de expandir o crescimento nacional – o que é louvável e necessário para um país que quer protagonizar ações ao redor do globo como o Brasil tem se manifestado – no entanto, obter o mínimo de investimentos e resultados internos é o passo fundamental para a soberania na Educação. Acreditamos que é através dela ser possível galgar os passos da excelência e da ostentação internacional.
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