Paralisação faz delegacia deixar de registrar caso de tentativa de estupro
Menor voltou algemado para o carro da PM e depois foi liberado, em Goiás.
Policiais e servidores param por 24h em protesto por reposição salarial.
Policiais civis de uma delegacia em Anápolis, a 55 km de Goiânia, se recusaram a receber um menor apreendido nesta quarta-feira (9) suspeito de tentativa de estupro. A atitude foi motivada por causa paralisação de 24 horas de policiais e servidores da Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO). O adolescente teve que ser levado novamente ao carro da Polícia Militar.
Momentos depois, o menor, que não teve a idade divulgada, acabou sendo liberado. A ocorrência foi uma das poucas levadas à delegacia geral da cidade. Os corredores, normalmente sempre cheios, estavam sem qualquer movimento.
HomicídiosO presidente da União Goiana dos Policiais Civis (Ugopoci) em Anápolis, Paulo Renato Lima Siqueira explicou o motivo do ato. "Esse protesto é uma resposta que estamos dando ao tratamento que foi dado ao servidor público, em especial, à Polícia Civil", disse.a
Na Região Metropolitana de Goiânia, foram registrados seis homicídios nesta quarta-feira,sendo 5 na capital e um em Aparecida de Goiânia. A paralisação atrasa a investigação dos crimes, bem como o recolhimento dos corpos ao Instituto Médico Legal (IML).
A desembargadora Maria das Graças Carneiro Requi, em decisão monocrática, determinou a suspensão total da paralisação sob pena de multa diária no valor de R$ 20 mil em caso de descumprimento. Ela alegou que o movimento poderá acarretar enormes prejuízos à população, pois coloca em risco a vida dos cidadãos.
Em entrevista coletiva nesta tarde, o secretário de Segurança Pública, Joaquim Mesquita, minimizou a paralisação e afirmou que possíveis "transgressões disciplinares" de servidores que não trabalharam serão apuradas.
"A PM está funcionando integralmente. Tivemos um ou outro problema pontual no sistema prisional e nas polícias Civil e Técnico-Científica, mas que já foram prontamente resolvidos", disse. Questionado se sabia o número de homicídios ocorridos nesta quarta-feira, ele disse: "Não tenho essa informação".
Demora
A fala do secretário contradiz famílias que aguardam a liberação de corpos no IML de Goiânia. Parentes do comerciante Antônio Marques de Amorim, de 41 anos, morto em um assalto nesta manhã, ainda aguardam para que a necrópsia seja feita, mesmo o crime tendo ocorrido às 8h30.
A fala do secretário contradiz famílias que aguardam a liberação de corpos no IML de Goiânia. Parentes do comerciante Antônio Marques de Amorim, de 41 anos, morto em um assalto nesta manhã, ainda aguardam para que a necrópsia seja feita, mesmo o crime tendo ocorrido às 8h30.
"Eu acho que isso é uma falta de respeito com o cidadão. Não é culpa dos funcionários, mas do governo, que permite isso. A gente fica muito prejudicado. Quando você precisa do estado para uma assistência mínima, nunca tem", disse ao G1 o estudante Saulo Machado de Oliveira, de 18 anos, sobrinho da vítima.
Policiais e demais servidores da SSP-GO iniciaram uma paralisação, por volta das 8h desta quarta-feira. Segundo um comitê, formado por 14 entidades que representam a categoria, nenhuma ocorrência será registrada nas próximas 24 horas.
De acordo com os manifestantes, a “Operação Padrão Atividade Zero” é um protesto contra o não pagamento, pelo governo estadual, da segunda parcela da reposição salarial, de 12,33%, que deveria ter sido feito em novembro para os policiais civis e em dezembro para os demais servidores.
Além dos policiais civis e militares, também participam do ato bombeiros, peritos criminais, médicos legistas, agentes prisionais, delegados e papiloscopistas.
O presidente do Sinpol-GO, Paulo Sérgio Alves, disse ao G1 que mais de 25 mil policiais civis e militares estão paralisados. "Queremos ter a sociedade do nosso lado, mostrando que nós somos importantes. A sociedade deve pedir pelos policiais, tem que sair e defender os servidores que estão a serviço dela e, se fica ruim para a gente, fica ruim pra todos", destacou.