Bateram a carteira do delegado
DIÁRIO DA MANHÃ
MARCUS VINÍCIUS
Imagine o cidadão comum que vai a uma empresa de segurança e encomenda um moderno sistema de vigilância, depois do acerto de preço, paga e instala o equipamento. Qual é a sua surpresa, ao voltar de uma viagem – imaginado que a casa estava protegida pela nova tecnologia –, e descobre que os ladrões roubaram exatamente seu equipamento de segurança!
O mesmo desalento ocorre com o povo nas ruas em relação a Segurança Pública em Goiás. A manchete, ontem, do jornal O Popular: “Ladrões levam cofre até da Secretaria de Segurança” amplifica a sensação de insegurança dos cidadãos, afinal, se a sala de segurança do secretário de Segurança foi violada, nada mais é seguro em Goiás.
As relações de confiança são muito importantes, porém são frágeis como um cristal, que se trincado, não se une mais. Não dá para consultar-se com um médico no qual não se confie no diagnóstico. Da mesma forma não se sente protegido o cidadão que vê a polícia ser vítima de furto.
Os números da violência em Goiás são graves e representam um desafio enorme para o secretário Joaquim Mesquita e para todo o efetivo policial do Estado. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a taxa de homicídios por 100 mil habitantes, que é de 27,1 no Brasil, em Goiás chega a 36,4. No período pesquisado (2001-2011), São Paulo teve queda neste índice de 41,8 para 4,1. A taxa de homicídio de jovens entre 15 a 24 anos pulou de 37,8 para 69 em Goiás num avanço de 82,8% entre 2001 e 2011. Chama atenção, principalmente os casos de roubos de veículos: de 1.992 ocorrências em 2010 houve um aumento de cerca de 108% saltando para 4.134 casos em 2011!
De acordo com a matéria de Rosana Melo no O Popular, “informações extraoficiais são de que o cofre guardaria documentos e também uma considerável quantia em dinheiro”.
Que documentos são estes?
Quanto dinheiro havia no cofre?
Quais pessoas tinham acesso àquela sala?
Por que o secretário só foi informado em junho do furto do cofre ocorrido no mês de maio?
Passados quase quatro meses, quem são os suspeitos? Quais as providências tomadas?
Existe por parte da população, desconfiança sobre o papel das forças de segurança no Estado desde que a Operação Monte Carlo da Polícia Federal, trouxe a baila a rede de influências na segurança pública do empresário do jogo do bicho e caça-níqueis Carlos Augusto Ramos, o Carlos Cachoeira. A sensação é de que depois das denúncias nem o governador, nem os secretários que se sucederam recuperaram o controle da área de segurança.
Os goianos, e em especial os goianienses, estão assombrados pela ação de grupos de extermínio, a morte de 30 moradores de rua, a epidemia do crack e a explosão de roubos de carros, furtos de residência e assalto à mão armada. Embora possa dar margem ao humor o furto ocorrido nas barbas do secretário é por demais grave. A situação de intranquilidade do povo goiano não recomenda faça qualquer blague sobre o caso.
O governador, a SSP, as associações de delegados e agentes, as entidades que representam policiais militares e bombeiros devem se unir, discutir rumos, estabelecer metas para superar esta escalada da violência em nosso Estado. Afinal, não é bom para ninguém – nem para o cidadão, tampouco para os profissionais de segurança –, que ladrões batam a carteira do comandante da tropa.
Com certeza, o episódio e os números da violência não justificam o slogan “melhor governo da vida dos goianos”.
(Marcus Vinícius, jornalista; edita o www.marcusvinicius.blog.br)
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