Políticos flagrados recebendo suposta propina no mensalão do DEM mantêm distância da vida pública
Quase quatro anos depois do escândalo, ex-distritais se dedicam à família e aos negócios
Depois de serem filmados recebendo dinheiro de suposta propina e fazendo oração para agradecer o benefício, os ex-deputados distritais envolvidos no escândalo do mensalão do Democratas (DEM) se isolaram do mundo político.
Desde 2009, quando vieram à tona as denúncias do esquema de corrupção no GDF (Governo do Distrito Federal), os principais envolvidos deram um jeito de sumir da vida pública e dificilmente são vistos na capital federal. Alguns deles até mudaram de cidade.
É o caso do suposto chefe do esquema, o ex-governador José Roberto Arruda. Mesmocotado para voltar em 2014 como candidato ao governo do DF, Arruda vive atualmente em São Paulo.
Ele mudou-se para a capital paulista para acompanhar a esposa, Flávia Peres Arruda, que trabalha como garota do tempo em uma emissora de televisão. No trabalho, Flávia não usa o sobrenome do marido.
Arruda recebe aposentadoria especial, desde 2009, pelos serviços prestados como engenheiro eletricista na CEB (Companhia Energética de Brasília).
Segundo amigos do ex-governador, ele costuma voltar à Brasília uma vez por mês, e mantém contato com alguns colegas da política. No entanto, raramente aparece em público.
A equipe de reportagem do R7 tentou falar tanto com Arruda como com Flávia Peres, mas nenhum dos dois retornou o contato.
De “deputada da bolsa” à avó dedicada
A ex-deputada distrital Eurides Brito, flagrada em vídeo colocando suposto pagamento de propina na bolsa, ainda mora em Brasília, mas agora se dedica à família.
Eurides teve o mandato cassado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal em junho de 2010. Desde então, ela está longe do mundo político e garante que não tem nenhuma pretensão de voltar.
— Estou de avó. Agora eu sou avó em tempo integral, dedicação exclusiva. Nenhum dos meus netos mora em Brasília por isso eu viajo constantemente para vê-los.
A ex-distrital, que ficou conhecida como “deputada da bolsa”, conta que tem quatro netos – dois adolescentes e dois que ainda são crianças. Segundo ela, o mais importante no momento é estar com eles.
Dinheiro na meia
O ex-deputado Leonardo Prudente era presidente da Câmara Legislativa quando foi flagrado escondendo dinheiro de suposta propina nas meias.
Depois da divulgação dos vídeos instalou-se uma crise no parlamento do DF e Prudente renunciou o cargo de presidente da Casa, no início de 2010. Um mês depois ele se afastou em definitivo da Câmara para não ser cassado.
Depois do escândalo, o “deputado da meia” nunca mais se envolveu no cenário político. Conhecidos de Prudente dizem que agora ele se dedica a um negócio próprio e não tem ambição de voltar à vida pública, mas continua morando em Brasília.
Oração da propina
Um dos vídeos mais polêmicos divulgados depois que a Operação Caixa de Pandora foi deflagrada foi protagonizado pelo ex-deputado distrital Junior Brunelli. Ele aparece em vídeo, com Leonardo Prudente e Durval Barbosa – delator do esquema de mensalão do DEM – comandando uma oração após receber o mensalão.
O episódio ficou conhecido como “oração da propina”, na qual Brunelli agradece a Deus pela vida de Durval, que tinha acabado de repassar o dinheiro.
— Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos. Somos gratos pela vida do Durval por ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade, porque o Senhor contempla a questão no seu coração.
Depois do episódio ele também renunciou para escapar da cassação. Atualmente, o ex-distrital está exercendo a atividade de pastor evangélico em São Paulo.
No início do mês, reportagem do Correio Braziliense flagrou Brunelli em uma das filiais paulistas da igreja Catedral da Benção, que foi fundada pelos pais dele.
A equipe de reportagem do R7 entrou em contato com o pai, Doriel de Oliveira, e com a mãe de Brunelli, Ruth Brunelli. No entanto, a assessoria da família informou que não estava autorizada a falar sobre o assunto e que os pais do ex-distrital estavam incomunicáveis.