Uma reunião familiar realizada em um restaurante de Cantão, cidade a mil quilômetros de onde a pandemia do novo coronavírus começou, no dia seguinte do início do isolamento, foi o ponto de partida para uma importante descoberta sobre como o vírus entra no corpo humano.
Essa reunião familiar foi realizada para comemorar a chegada de um parente (chamado de paciente X), um homem recém-chegado de Wuhan. Ele não tinha sintomas, mas estava infectado pelo novo coronavírus.
Depois de alguns dias do evento, nove pessoas que tinham participado da reunião familiar haviam contraído o vírus. Mas algumas delas alegaram que nem tocaram no paciente X. Como isso teria acontecido?
Esse acontecimento acendeu uma luz de alerta nos pesquisadores chineses, que acionaram o setor de vigilância epidemiológica do país, que mapeia todos os movimentos de quem é testado positivo para a Covid-19.
Através da análise das câmeras de segurança do interior do restaurante, os pesquisadores perceberam que dez pessoas de três famílias diferentes que almoçaram no restaurante naquele dia foram contaminadas. Mas a maioria não teve contato físico no paciente X. Nem tocou nas mesmas superfícies. Mas, então, como houve o contágio?
Pelas cenas foi possível descobrir que todos os infectados estavam sentados nas três mesas no fundo do terceiro dos cinco andares do restaurante. Na linha de ventilação de um único ar-condicionado. As mesas com as famílias A — do paciente com a Covid-19 –, B e C ficavam a um metro uma da outra.
Os pesquisadores reconstituíram a cena, utilizando bonecos com a temperatura do corpo humano. E soltaram um gás marcador que se propaga no ar como o coronavírus pra representar a respiração do único infectado, o paciente X. Eles concluíram que o fluxo do ar-condicionado, no ambiente fechado, infectou as outras pessoas. Quatro da família A, do paciente X, testaram positivo nas semanas seguintes. Três dos quatro membros da família B. E dois dos sete da família C.
Segundo o estudo, publicado no Jornal do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), neste corredor de ar, provavelmente, o paciente X estava emitindo as partículas enquanto falava, em aerossol, com as gotículas rodando sobre esse ambiente. Outro fato interessante é que nenhum garçom se contaminou. E as outras mesas que estavam fora desse corredor onde o ar ficava circulando também não se contaminaram.
Outros estudos
Outro estudo neste sentido foi realizado em dois hospitais de Wuhan. Os pesquisadores encontraram partículas do vírus principalmente em banheiros, nos refeitórios e nas salas onde os médicos trocam de roupa. Todos os espaços eram mal-ventilados.
Em Nebraska, nos Estados Unidos, os cientistas também encontraram o novo coronavírus no ar em um hospital. Os resultados foram publicados no Medrxiv, um site que distribui manuscritos não publicados sobre ciências da saúde.
No Japão, uma série de experiências reforça a possibilidade de infecção pelo ar em hospitais e lojas de departamento. Usando raio-laser e câmeras muito sensíveis, os cientistas conseguem acompanhar as micropartículas no ar. Quando alguém espirra, é possível ver as gotículas maiores caindo rapidamente, mas as micropartículas ficam pairando no ar quando há pouca ou nenhuma ventilação no ambiente.
Mas quando há ventilação no ambiente, com as janelas abertas, com uma corrente de ar, essas micropartículas são rapidamente levadas para fora. Simples, não?
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
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