o homem que acabou com um dos maiores cartéis de drogas do mundo
Jorge Salcedo: o homem que acabou com um dos maiores cartéis de drogas do mundo
O engenheiro e ex-reserva do Exército colombiano, grande responsável pela ruína do cartel de Cali, tem sua trajetória descrita pelo livro “À Mesa com o Diabo”
Marcos Nunes Carreiro
É pouco provável que o leitor tenha lido o jornal “Washington Post” no dia 4 de dezembro de 1993. Mas na página 21 do diário estadunidense, o jornalista Douglas Farah analisava um importante fato para o mundo no que dizia respeito ao tráfico de drogas. O artigo tratava da morte do colombiano Pablo Escobar, grande traficante de cocaína que balançou não só seu país como o Ocidente entre as décadas de 1980 e 1990. No artigo, Farah publicava que a morte de Escobar era importante por dois motivos: “A primeira é simbólica, pois Escobar era […] considerado por muitos acima da lei, intocável. […] A segunda, era a promessa da Colômbia agora de pegar todos os recursos utilizados para caçar Escobar […] e direcioná-los contra o cartel de Cali”.
A morte de Pablo Escobar, que era conhecido como “El Doctor”, também significava o começo do fim de uma era de sangue iniciada em meados da segunda metade do século XX na Colômbia. Entre 1946 e 1957, o conflito político entre os partidos Liberal e Conservador deixou pelo menos 300 mil mortos, uma era conhecida como “La Violencia”. Os militares colombianos tomaram o poder por algum tempo, mas a guerra civil só cessou quando os dois partidos entraram em um acordo formando, assim, a Frente Nacional, uma coligação para forçar uma alternância no governo.
Porém, o período de “La Violencia” deixou dissidências que influenciaram na criação de grupos guerrilheiros no país. O principal deles foi as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que desde a década de 1960 ficaram conhecidos por suas ações de sequestro a políticos, autoridades diplomáticas e jornalistas. Mas foi o Movimento 19 de Abril (M-19), que, entre as décadas de 1970 e 1980, aterrorizou o país com invasões e assassinatos, muitos deles atribuídos ao comando nunca confirmado do traficante Pablo Escobar.
Em novembro de 1985, guerrilheiros do M-19 tomou o Palácio da Justiça em Bogotá com um escudo de 300 reféns. O grupo foi responsável pela destruição de dezenas de fichas criminais, incluindo uma vasta quantidade de documentos de extradição envolvendo traficantes. Nessa época, era comum uma ação conjunta entre os governos colombiano e estadunidense para inibir o tráfico de drogas, uma vez que grande parte dos entorpecentes produzidos na Colômbia tinha como alvo os Estados Unidos. Assim, como a Justiça colombiana não conseguia conter o tráfico, os presos eram extraditados para a América do Norte, pois lá o sistema judicial não era vulnerável a subornos ou intimidação.
É certo que Escobar temia ser extraditado. Uma de suas famosas frases era: “Melhor um túmulo na Colômbia que uma cela nos Estados Unidos”. Por isso, o chefe do cartel de Medellín –– cidade ao norte do país –– iniciou uma guerra sem precedentes contra o governo colombiano sediado na capital Bogotá. A mando do traficante, milhares de pessoas foram assassinadas entre juízes, promotores, ministros, candidatos ao governo, políticos, etc. Exatamente por isso seu nome ficou conhecido do mundo e é provavelmente familiar ao leitor. Como o fim da Guerra Fria e Saddam Hussein expulso do Kuwait, no fim da década de 1980 e início dos anos 1990, o mundo –– principalmente os Estados Unidos –– caçava Escobar.
Mas a derrocada do traficante começou no fim de 1987, quando Escobar comprou briga com seus rivais de narcotráfico: o cartel de Cali, cidade ao sul da Colômbia. Se Escobar era o alvo primário, os irmãos Rodriguéz Orejuela vinham logo em seguida, mas não porque eram menos eficazes no tráfico, mas por serem justamente mais eficientes nas “relaçõe$” com o governo e seu sistema judiciário. Não foi à-toa que o cartel conseguiu eleger um presidente. Com a ajuda mais que bem-vinda de US$ 6 milhões com origem nas drogas, Ernesto Samper Pizano venceu as eleições e governou o país entre 1994 e 1998, embora não tenha conseguido impedir que o cartel fosse desmantelado logo em seguida.
A morte de Pablo Escobar, que era conhecido como “El Doctor”, também significava o começo do fim de uma era de sangue iniciada em meados da segunda metade do século XX na Colômbia. Entre 1946 e 1957, o conflito político entre os partidos Liberal e Conservador deixou pelo menos 300 mil mortos, uma era conhecida como “La Violencia”. Os militares colombianos tomaram o poder por algum tempo, mas a guerra civil só cessou quando os dois partidos entraram em um acordo formando, assim, a Frente Nacional, uma coligação para forçar uma alternância no governo.
Porém, o período de “La Violencia” deixou dissidências que influenciaram na criação de grupos guerrilheiros no país. O principal deles foi as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que desde a década de 1960 ficaram conhecidos por suas ações de sequestro a políticos, autoridades diplomáticas e jornalistas. Mas foi o Movimento 19 de Abril (M-19), que, entre as décadas de 1970 e 1980, aterrorizou o país com invasões e assassinatos, muitos deles atribuídos ao comando nunca confirmado do traficante Pablo Escobar.
Em novembro de 1985, guerrilheiros do M-19 tomou o Palácio da Justiça em Bogotá com um escudo de 300 reféns. O grupo foi responsável pela destruição de dezenas de fichas criminais, incluindo uma vasta quantidade de documentos de extradição envolvendo traficantes. Nessa época, era comum uma ação conjunta entre os governos colombiano e estadunidense para inibir o tráfico de drogas, uma vez que grande parte dos entorpecentes produzidos na Colômbia tinha como alvo os Estados Unidos. Assim, como a Justiça colombiana não conseguia conter o tráfico, os presos eram extraditados para a América do Norte, pois lá o sistema judicial não era vulnerável a subornos ou intimidação.
É certo que Escobar temia ser extraditado. Uma de suas famosas frases era: “Melhor um túmulo na Colômbia que uma cela nos Estados Unidos”. Por isso, o chefe do cartel de Medellín –– cidade ao norte do país –– iniciou uma guerra sem precedentes contra o governo colombiano sediado na capital Bogotá. A mando do traficante, milhares de pessoas foram assassinadas entre juízes, promotores, ministros, candidatos ao governo, políticos, etc. Exatamente por isso seu nome ficou conhecido do mundo e é provavelmente familiar ao leitor. Como o fim da Guerra Fria e Saddam Hussein expulso do Kuwait, no fim da década de 1980 e início dos anos 1990, o mundo –– principalmente os Estados Unidos –– caçava Escobar.
Mas a derrocada do traficante começou no fim de 1987, quando Escobar comprou briga com seus rivais de narcotráfico: o cartel de Cali, cidade ao sul da Colômbia. Se Escobar era o alvo primário, os irmãos Rodriguéz Orejuela vinham logo em seguida, mas não porque eram menos eficazes no tráfico, mas por serem justamente mais eficientes nas “relaçõe$” com o governo e seu sistema judiciário. Não foi à-toa que o cartel conseguiu eleger um presidente. Com a ajuda mais que bem-vinda de US$ 6 milhões com origem nas drogas, Ernesto Samper Pizano venceu as eleições e governou o país entre 1994 e 1998, embora não tenha conseguido impedir que o cartel fosse desmantelado logo em seguida.
Essas relações são muito bem descritas em “À Mesa com o Diabo: a história do homem que desmantelou o cartel de Cali” (Objetiva, 2013), do jornalista estadunidense William C. Rempel. Principalmente com base nos relatos de Jorge Salcedo, que trabalhou com o cartel durante mais de seis anos, Rempel descreve que os irmãos Gilberto e Miguel Rodriguéz Orejuela, José “Chepe” Santacruz e Hélmer “Pacho” Herrera, os chefes do cartel, acreditavam na premissa: o dinheiro compra tudo. E essa era uma verdade para “Los Caballeros de Cali”.
O cartel “tinha policiais, generais e políticos… jatos, iates, propriedades que serviam de esconderijo e mansões… contadores, pilotos e assassinos profissionais. Seu dinheiro comprava silêncio, lealdade, assassinatos –– até mesmo uma Constituição ajustada segundo suas necessidades”, conta Rempel em seu livro. Por volta de 1993, o cartel de Cali excedia uma receita anual de US$ 7 bilhões. Para se ter uma ideia, a quantia representa aproximadamente 10% da receita que a Colômbia arrecadou em 2010, época em que já era a quarta maior economia da América Latina, atrás apenas de Brasil, México e Argentina.
E com tanto dinheiro, não era improvável que Los Caballeros comprassem uma Constituição. Em 1991, uma assembleia constituinte se reuniu para elaborar o projeto de lei de uma nova constituição. Os chefes de Cali, determinados a encerrar a prática de extradição –– que não ameaçava apenas Escobar, mas a todos –– abriram a temporada dos subornos junto aos membros da assembleia. Em um hotel na capital Bogotá, os irmãos Rodríguez Orejuela fizeram filas de políticos se formarem para receber favores, principalmente financeiros.
Assim, os irmãos ganharam o direito de revisar as minutas dos projetos de lei, com a ajuda de um time de advogados tanto colombianos quanto estadunidenses. A revisão tinha dois objetivos: dar um fim à extradição e pavimentar um caminho para obter indulto dos traficantes por crimes passados. Porém, no texto aprovado, a prática era descrita como “uma defesa da soberania colombiana contra a intervenção de Washington”.
Jorge Salcedo acompanhou a prática de perto e sua visão dos fatos está gravada na página 102 de “À Mesa com o Diabo”: “Depois de testemunhar mais um dia de subornos, ele se queixou para sua esposa: ‘Nossa Constituição… está sendo revisada com propinas, álcool e prostitutas.’ E tudo no maior descaramento, disse. ‘Por que ninguém vê?’.” Assim, a nova Constituição da Colômbia foi colocada em prática no final de 1991.
Quem é Jorge Salcedo
Jorge Salcedo é a personagem principal do livro. Depois de presenciar tantas cenas como a descrita acima –– e outras muito piores, ele se torna o responsável pela prisão do chefes do chefes do cartel, Miguel Rodríguez Orejuela. Logo, Salcedo desestabiliza, com a ajuda dos Estados Unidos, não só o cartel como também estremece a política colombiana, uma vez que as duas coisas estavam intimamente ligadas.
Engenheiro e reserva do Exército, Salcedo inicia sua ligação com o cartel de Cali por meio de um amigo, como está descrito no primeiro capítulo de “À Mesa com o Diabo” (p. 17), que se passa em janeiro de 1989:
“Jorge Salcedo acomodou sua bagagem de mão no compartimento sobre as poltronas e tomou seu assento na janela do velho Boeing 727. Era um voo de manhã bem cedo, de Bogotá a Cali, na Colômbia, e ele fazia a viagem com relutância. Além do horário inconveniente, o empresário de 41 anos não podia de modo algum se dar ao luxo de ficar longe do empreendimento de óleo de motor. O projeto já estava atrasado e ali estava ele num avião para uma viagem misteriosa. Não fazia a menor ideia de por que estava indo para Cali. Na verdade, até chegar ao Aeroporto Internacional El Dourado em Bogotá, uma hora antes, não sabia sequer seu destino.
‘Jorge, você precisa vir comigo. Algumas pessoas querem te conhecer’, afirmara seu amigo Mario ao telefone. Ele foi enfático. Disse a Jorge que fizesse uma pequena mala para apenas uma noite –– depois desligou. Agora estavam juntos no avião.
‘Que negócio é esse, Mario?’ Jorge não conseguia esconder um tom de impaciência ao virar para o amigo sentado na poltrona do corredor. ‘O que a gente tá fazendo aqui?’
Como Jorge, Mario era um homem na casa dos 40 –– em forma, com boa aparência, transmitindo autoconfiança. Mesmo em casuais roupas civis, parecia o militar prototípico, uma personagem saída de algum filme. Mas o recém-reformado major Mario del Basto não tinha nada de fictício, era um soldado altamente condecorado.
‘Depois que o avião subir’, assegurou ele a Jorge, ‘a gente conversa’. Acenou com a cabeça para alguns estranhos ainda de pé no corredor.
Jorge sempre confiara em Mario. Os dois haviam se tornado bons amigos desde que Jorge ingressara na reserva das forças armadas colombianas em 1984. Mario, um oficial do Exército regular, tornou-se comandante na unidade de reserva de Jorge, baseada em Cali. O major contava com Jorge como seu oficial no serviço de informações, graças a suas valiosas habilidades em armamentos, vigilância eletrônica, tecnologias de rádio e fotografia.
A reserva do Exército era uma posição não remunerada, voluntária, mas dava a Jorge um gostinho da carreira militar seguida por seu pai, o general Jorge Salcedo, que combatera pelas principais forças armadas colombianas e permanecera uma figura pública proeminente por quase 25 anos após se reformar, em meados da década de 1960.
Jorge via reflexos de seu pai no major Del Basto. Ambos eram oficiais de carreira do Exército, usavam uniformes com o peito repleto de medalhas por bravura e tinham larga experiência no combate aos guerrilheiros antigoverno.Crescer como filho de general proporcionara a Jorge inúmeras vantagens, de segurança financeira e respeito social a oportunidades para viajar –– incluindo uma estada prolongada nos Estados Unidos quando seu pai estava servindo no Kansas. Também influenciou suas opiniões sobre grupos como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), contra as quais seu pai travava uma guerra. Em casa e na reserva, Jorge via os guerrilheiros como terroristas incorrigíveis e partilhava das frustações amplamente disseminadas entre os militares pelo fato de que as conversações de paz sancionadas pelo governo simplesmente permitiam aos guerrilheiros se reagruparem e se reabastecerem.
‘Estamos tentando convencê-los a morrer’, queixava-se Mario para Jorge.
Mesmo para um herói militar como o major Del Basto, esse tipo de crítica contra a liderança civil era perigosa. Ele dividia suas opiniões somente com amigos íntimos, até que sua raiva não pôde mais ser contida. No fim de 1988, Del Basto rejeitou uma promoção a coronel e deixou o Exército. Ele detonou o presidente Virgilio Barco por tratar as Farc com indulgência. Depois desapareceu. Jorge ficou sem notícias de Mario por vários dias –– até o misterioso telefonema que o levou a subir a bordo do voo da companhia aérea Avianca.
‘Vamos nos encontrar com uns sujeitos de Cali’, começou Mario momentos depois da decolagem. Ele se curvava sobre a poltrona vazia entre ambos. O ruído dos motores protegia sua privacidade.
‘Eu os conheço?’
‘É possível. São importantes homens de negócios locais.’
Jorge havia morado em Cali na infância, quando o pai servia como comandante de brigada por lá. Residiu ali outra vez no início dos anos 1980, quando se tornou sócio e engenheiro de uma fábrica de baterias nos arredores da terceira maior cidade colombiana.
‘O que posso contar para você’, continuou Mario, ‘é que esse pessoal tem um problema sério com Pablo Escobar. Ele anda atacando seus negócios, ameaçando suas famílias –– é uma situação terrível’.
A expressão de Jorge abruptamente endureceu, encarando o amigo. ‘Não me diga. A gente está indo se encontrar com uns sujeitos do cartel de Cali?”
Em janeiro de 1989, todo mundo na Colômbia sabia a respeito da rixa cada vez mais violenta entre o cartel de Medellín de Escobar e seus rivais de Cali. Por quase um ano, as manchetes traziam sangrentos relatos de bombas, gente desmembrada, tiroteios. O número de mortes entre testemunhas inocentes crescia. Como a maioria de seus amigos e conhecidos, Jorge temia e odiava Pablo Escobar. O chefão das drogas havia declarado guerra ao governo colombiano numa campanha para derrubar o acordo de extradição firmado por Bogotá com Washington. Os assassinos que ele contratava miravam altos funcionários do país, policiais locais, investigadores criminais e juízes. […]
Jorge não sabia muita coisa a respeito dos rivais de Escobar em Cali, a não ser por reputação. Eles eram tidos como menos violentos –– pelo menos, não matavam figuras públicas. Na verdade, os chefões do sul eram notoriamente conhecidos como ‘os Cavalheiros de Cali’. Entretanto, Jorge nunca considerou a possibilidade de escolher um dos dois lados. A guerra entre os cartéis não era assunto seu.
‘Você devia ter me dito’, disse Jorge. ‘Talvez eu não quisesse conhecer esse pessoal.’
Mario deu de ombros. ‘Mas eles querem conhecer você.’
Jorge abanou a cabeça, pasmo. Uma grande organização criminosa queria se encontrar com ele. ‘Por quê?’ Mario olhou em volta para verificar se não havia ninguém escutando e continuou.
Pouco após deixar o Exército, disse Mario, ele havia sido chamado a Cali e recebido uma proposta para trabalhar como gerente de segurança para a família Rodríguez Orejuela. Jorge reconheceu o nome. Era os donos de uma rede nacional de farmácias populares e também de um time de futebol [América de Cali], entre muitos outros negócios legítimos. Mas todo mundo sabia que eram também grandes traficantes. Como Escobar, negavam qualquer relação com o narcotráfico. Ao contrário de Escobar, mantinham o low profile.
‘Esses caras estão temendo por suas vidas e por suas famílias’, disse Mario. ‘Pablo está tentando acabar com eles –– homens, mulheres, crianças, todo mundo.’ Ele disse que isso era particularmente injusto com o clã, porque ‘não são pessoas violentas.’ Mario descreveu seu novo emprego como sendo o de manter mulheres e crianças inocentes a salvo dos assassinos contratados de Escobar.”
Ou seja, o negócio não era o cartel de drogas. Pelo menos não no início. O cartel queria o conhecimento e os contatos de Salcedo tanto para manter suas famílias em segurança quanto para caçar e matar Escobar. E durante alguns anos, ele tentou. Quase conseguiu. Mas as tentativas resultaram no acirramento da guerra entre os carteis. E um verdadeiro banho de sangue tomou o país. Os dois lados investiram milhões de dólares na intenção de matar um ao outro.
Em 1993, a guerra estava no ápice. Até então, Salcedo não tinha contato com os assassinatos e demais atividades explicitamente ilícitas do cartel. Assim, alegando ainda ser homem honesto, vivia na negação, sempre repetindo que seu papel era proteger vidas, afinal matar Escobar era, a essa altura, também um ato de patriotismo.
E viveu assim durante alguns anos, sempre esperando a hora de cumprir seu papel e sair do cartel. Porém, sua visão mudou depois que Escobar ordenou uma chacina contra amigos e familiares de Pacho Herrera, um dos chefes do cartel. Dezenas de assassinos de aluguel alugaram uma fazenda perto de Cali e esperaram um jogo de futebol que aconteceria nas proximidades. No meio do jogo, eles desceram de caminhões e dispararam metralhadoras matando quase 20 pessoas.
Pacho Herrera, então, não podendo encontrar os assassinos foi atrás de quem havia alugado a fazenda. Depois que o encontrou, grande parte do cartel se reuniu para ver a reprimenda ao fazendeiro que facilitou a morte de tantos. “O fazendeiro desamparado teve a camisa e as botas arrancadas. Suas pernas foram amarradas ao engate de reboque de um Toyota Land Cruiser. Seus braços foram amarrados a uma poderosa Trooper de tração nas quatro rodas. A multidão recuou e urrou conforme as duas picapes se afastaram uma da outra, tensionando vagarosamente, depois deslocando as juntas de braços e pernas.”
Salcedo não ficou para ver, mas soube de detalhes da execução. “Foi assombrado por imagens que não viu, mas das quais não podia escapar. O episódio salientou uma verdade inescapável: os Cavalheiros de Cali eram tão capazes de crueldade quanto os piores capangas de Pablo”, cuja morte era o motivo de sua presença naquele lugar. Tudo o que Salcedo queria era matar Escobar e sair do cartel. Mas, no final, quem acabou matando o traficante rival foi mesmo a polícia.
Engenheiro e reserva do Exército, Salcedo inicia sua ligação com o cartel de Cali por meio de um amigo, como está descrito no primeiro capítulo de “À Mesa com o Diabo” (p. 17), que se passa em janeiro de 1989:
“Jorge Salcedo acomodou sua bagagem de mão no compartimento sobre as poltronas e tomou seu assento na janela do velho Boeing 727. Era um voo de manhã bem cedo, de Bogotá a Cali, na Colômbia, e ele fazia a viagem com relutância. Além do horário inconveniente, o empresário de 41 anos não podia de modo algum se dar ao luxo de ficar longe do empreendimento de óleo de motor. O projeto já estava atrasado e ali estava ele num avião para uma viagem misteriosa. Não fazia a menor ideia de por que estava indo para Cali. Na verdade, até chegar ao Aeroporto Internacional El Dourado em Bogotá, uma hora antes, não sabia sequer seu destino.
‘Jorge, você precisa vir comigo. Algumas pessoas querem te conhecer’, afirmara seu amigo Mario ao telefone. Ele foi enfático. Disse a Jorge que fizesse uma pequena mala para apenas uma noite –– depois desligou. Agora estavam juntos no avião.
‘Que negócio é esse, Mario?’ Jorge não conseguia esconder um tom de impaciência ao virar para o amigo sentado na poltrona do corredor. ‘O que a gente tá fazendo aqui?’
Como Jorge, Mario era um homem na casa dos 40 –– em forma, com boa aparência, transmitindo autoconfiança. Mesmo em casuais roupas civis, parecia o militar prototípico, uma personagem saída de algum filme. Mas o recém-reformado major Mario del Basto não tinha nada de fictício, era um soldado altamente condecorado.
‘Depois que o avião subir’, assegurou ele a Jorge, ‘a gente conversa’. Acenou com a cabeça para alguns estranhos ainda de pé no corredor.
Jorge sempre confiara em Mario. Os dois haviam se tornado bons amigos desde que Jorge ingressara na reserva das forças armadas colombianas em 1984. Mario, um oficial do Exército regular, tornou-se comandante na unidade de reserva de Jorge, baseada em Cali. O major contava com Jorge como seu oficial no serviço de informações, graças a suas valiosas habilidades em armamentos, vigilância eletrônica, tecnologias de rádio e fotografia.
A reserva do Exército era uma posição não remunerada, voluntária, mas dava a Jorge um gostinho da carreira militar seguida por seu pai, o general Jorge Salcedo, que combatera pelas principais forças armadas colombianas e permanecera uma figura pública proeminente por quase 25 anos após se reformar, em meados da década de 1960.
Jorge via reflexos de seu pai no major Del Basto. Ambos eram oficiais de carreira do Exército, usavam uniformes com o peito repleto de medalhas por bravura e tinham larga experiência no combate aos guerrilheiros antigoverno.Crescer como filho de general proporcionara a Jorge inúmeras vantagens, de segurança financeira e respeito social a oportunidades para viajar –– incluindo uma estada prolongada nos Estados Unidos quando seu pai estava servindo no Kansas. Também influenciou suas opiniões sobre grupos como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), contra as quais seu pai travava uma guerra. Em casa e na reserva, Jorge via os guerrilheiros como terroristas incorrigíveis e partilhava das frustações amplamente disseminadas entre os militares pelo fato de que as conversações de paz sancionadas pelo governo simplesmente permitiam aos guerrilheiros se reagruparem e se reabastecerem.
‘Estamos tentando convencê-los a morrer’, queixava-se Mario para Jorge.
Mesmo para um herói militar como o major Del Basto, esse tipo de crítica contra a liderança civil era perigosa. Ele dividia suas opiniões somente com amigos íntimos, até que sua raiva não pôde mais ser contida. No fim de 1988, Del Basto rejeitou uma promoção a coronel e deixou o Exército. Ele detonou o presidente Virgilio Barco por tratar as Farc com indulgência. Depois desapareceu. Jorge ficou sem notícias de Mario por vários dias –– até o misterioso telefonema que o levou a subir a bordo do voo da companhia aérea Avianca.
‘Vamos nos encontrar com uns sujeitos de Cali’, começou Mario momentos depois da decolagem. Ele se curvava sobre a poltrona vazia entre ambos. O ruído dos motores protegia sua privacidade.
‘Eu os conheço?’
‘É possível. São importantes homens de negócios locais.’
Jorge havia morado em Cali na infância, quando o pai servia como comandante de brigada por lá. Residiu ali outra vez no início dos anos 1980, quando se tornou sócio e engenheiro de uma fábrica de baterias nos arredores da terceira maior cidade colombiana.
‘O que posso contar para você’, continuou Mario, ‘é que esse pessoal tem um problema sério com Pablo Escobar. Ele anda atacando seus negócios, ameaçando suas famílias –– é uma situação terrível’.
A expressão de Jorge abruptamente endureceu, encarando o amigo. ‘Não me diga. A gente está indo se encontrar com uns sujeitos do cartel de Cali?”
Em janeiro de 1989, todo mundo na Colômbia sabia a respeito da rixa cada vez mais violenta entre o cartel de Medellín de Escobar e seus rivais de Cali. Por quase um ano, as manchetes traziam sangrentos relatos de bombas, gente desmembrada, tiroteios. O número de mortes entre testemunhas inocentes crescia. Como a maioria de seus amigos e conhecidos, Jorge temia e odiava Pablo Escobar. O chefão das drogas havia declarado guerra ao governo colombiano numa campanha para derrubar o acordo de extradição firmado por Bogotá com Washington. Os assassinos que ele contratava miravam altos funcionários do país, policiais locais, investigadores criminais e juízes. […]
Jorge não sabia muita coisa a respeito dos rivais de Escobar em Cali, a não ser por reputação. Eles eram tidos como menos violentos –– pelo menos, não matavam figuras públicas. Na verdade, os chefões do sul eram notoriamente conhecidos como ‘os Cavalheiros de Cali’. Entretanto, Jorge nunca considerou a possibilidade de escolher um dos dois lados. A guerra entre os cartéis não era assunto seu.
‘Você devia ter me dito’, disse Jorge. ‘Talvez eu não quisesse conhecer esse pessoal.’
Mario deu de ombros. ‘Mas eles querem conhecer você.’
Jorge abanou a cabeça, pasmo. Uma grande organização criminosa queria se encontrar com ele. ‘Por quê?’ Mario olhou em volta para verificar se não havia ninguém escutando e continuou.
Pouco após deixar o Exército, disse Mario, ele havia sido chamado a Cali e recebido uma proposta para trabalhar como gerente de segurança para a família Rodríguez Orejuela. Jorge reconheceu o nome. Era os donos de uma rede nacional de farmácias populares e também de um time de futebol [América de Cali], entre muitos outros negócios legítimos. Mas todo mundo sabia que eram também grandes traficantes. Como Escobar, negavam qualquer relação com o narcotráfico. Ao contrário de Escobar, mantinham o low profile.
‘Esses caras estão temendo por suas vidas e por suas famílias’, disse Mario. ‘Pablo está tentando acabar com eles –– homens, mulheres, crianças, todo mundo.’ Ele disse que isso era particularmente injusto com o clã, porque ‘não são pessoas violentas.’ Mario descreveu seu novo emprego como sendo o de manter mulheres e crianças inocentes a salvo dos assassinos contratados de Escobar.”
Ou seja, o negócio não era o cartel de drogas. Pelo menos não no início. O cartel queria o conhecimento e os contatos de Salcedo tanto para manter suas famílias em segurança quanto para caçar e matar Escobar. E durante alguns anos, ele tentou. Quase conseguiu. Mas as tentativas resultaram no acirramento da guerra entre os carteis. E um verdadeiro banho de sangue tomou o país. Os dois lados investiram milhões de dólares na intenção de matar um ao outro.
Em 1993, a guerra estava no ápice. Até então, Salcedo não tinha contato com os assassinatos e demais atividades explicitamente ilícitas do cartel. Assim, alegando ainda ser homem honesto, vivia na negação, sempre repetindo que seu papel era proteger vidas, afinal matar Escobar era, a essa altura, também um ato de patriotismo.
E viveu assim durante alguns anos, sempre esperando a hora de cumprir seu papel e sair do cartel. Porém, sua visão mudou depois que Escobar ordenou uma chacina contra amigos e familiares de Pacho Herrera, um dos chefes do cartel. Dezenas de assassinos de aluguel alugaram uma fazenda perto de Cali e esperaram um jogo de futebol que aconteceria nas proximidades. No meio do jogo, eles desceram de caminhões e dispararam metralhadoras matando quase 20 pessoas.
Pacho Herrera, então, não podendo encontrar os assassinos foi atrás de quem havia alugado a fazenda. Depois que o encontrou, grande parte do cartel se reuniu para ver a reprimenda ao fazendeiro que facilitou a morte de tantos. “O fazendeiro desamparado teve a camisa e as botas arrancadas. Suas pernas foram amarradas ao engate de reboque de um Toyota Land Cruiser. Seus braços foram amarrados a uma poderosa Trooper de tração nas quatro rodas. A multidão recuou e urrou conforme as duas picapes se afastaram uma da outra, tensionando vagarosamente, depois deslocando as juntas de braços e pernas.”
Salcedo não ficou para ver, mas soube de detalhes da execução. “Foi assombrado por imagens que não viu, mas das quais não podia escapar. O episódio salientou uma verdade inescapável: os Cavalheiros de Cali eram tão capazes de crueldade quanto os piores capangas de Pablo”, cuja morte era o motivo de sua presença naquele lugar. Tudo o que Salcedo queria era matar Escobar e sair do cartel. Mas, no final, quem acabou matando o traficante rival foi mesmo a polícia.
Risco de morte e fuga para os EUA
Da morte de Escobar, em 1993, à “saída” de Salcedo do cartel, se passaram quase três anos. Durante um tempo ele achava que poderia sair do “emprego” assim que o traficante de Medellín estivesse morto. Claro, não era assim. Sua vida agora estava ligada à família Rodríguez Orejuela e dependia também das práticas realizadas por ela. Logo, ele sua família estavam inegavelmente sob o domínio do cartel.
A essa época, todos os esforços dos Estados Unidos estavam voltados para a captura dos chefões de Cali, afinal Escobar estava morto e os “Cavalheiros” agora representavam o maior cartel de drogas do mundo. Um título ingrato. Assim, além de seus próprios esforços –– que na verdade poderiam ser muito maiores, não fosse a extensa folha de pagamento dos chefões ––, a Colômbia contava também como auxílio constante do U.S. Drugs Enforcement Administration (DEA), a agência estadunidense de combate ao narcotráfico.
No país estavam dois agentes: Chris Feistl e Dave Mitchell. Foi por eles que Salcedo se tornou um agente duplo. Acontece que em junho de 1995, Gilberto Rodríguez Orejuela, o irmão mais velho, foi preso em uma operação da polícia colombiana em parceria com o DEA. A situação é descrita no prólogo do livro:
“A tempestade no fim da primavera deixara a capital americana úmida e triste. Sob a pesada cobertura das nuvens, as ruas ficaram tão escuras em pleno meio-dia que os motoristas tinham de acender os faróis. Mas na C Street o sol brilhava em algum lugar dentro do prédio do Departamento de Estado: na sala do secretário de Estado assistente para assuntos internacionais envolvendo narcóticos e coibição de crimes –– carinhosamente chamado por seus colegas de trabalho de secretary for drugs and thugs, ‘secretário de drogas e bandidos’. A equipe do embaixador Robert S. Gelbard comemorava a notícia de que agentes antinarcóticos americanos e colombianos haviam acabado de capturar um dos maiores nomes do cartel da cocaína de Cali.
Após meses de diplomacia, pedidos insistentes e ameaças de Gelbard, o governo de Bogotá finalmente derrubara um importante membro do tráfico. Isso dificilmente era um golpe incapacitante no maior empreendimento criminoso do mundo. O chefe dos chefes, o cabeça do cartel, permanecia à solta e sob a proteção, ao que tudo indicava, das mais poderosas forças políticas colombianas. Mesmo assim, Gelbard e sua equipe ousavam ter esperanças de que o cartel de Cali poderia ser desmantelado.”
O chefe dos chefes era Miguel Rodríguez Orejuela, irmão mais novo de Gilberto e figura maior dentro do cartel. E após a prisão de Gilberto, ele delegou mais tarefas a Salcedo, que, afinal, era o chefe da segurança. Dentre as tarefas estava matar um companheiro que poderia complicar ainda mais os negócios. Esse foi o limite de Salcedo, que decidiu sair. Porém, sair não era exatamente simples. Como chefe da segurança, Salcedo sabia demais. Se deixasse o cartel, morreria. E não só ele, mas sua família também.
A essa época, todos os esforços dos Estados Unidos estavam voltados para a captura dos chefões de Cali, afinal Escobar estava morto e os “Cavalheiros” agora representavam o maior cartel de drogas do mundo. Um título ingrato. Assim, além de seus próprios esforços –– que na verdade poderiam ser muito maiores, não fosse a extensa folha de pagamento dos chefões ––, a Colômbia contava também como auxílio constante do U.S. Drugs Enforcement Administration (DEA), a agência estadunidense de combate ao narcotráfico.
No país estavam dois agentes: Chris Feistl e Dave Mitchell. Foi por eles que Salcedo se tornou um agente duplo. Acontece que em junho de 1995, Gilberto Rodríguez Orejuela, o irmão mais velho, foi preso em uma operação da polícia colombiana em parceria com o DEA. A situação é descrita no prólogo do livro:
“A tempestade no fim da primavera deixara a capital americana úmida e triste. Sob a pesada cobertura das nuvens, as ruas ficaram tão escuras em pleno meio-dia que os motoristas tinham de acender os faróis. Mas na C Street o sol brilhava em algum lugar dentro do prédio do Departamento de Estado: na sala do secretário de Estado assistente para assuntos internacionais envolvendo narcóticos e coibição de crimes –– carinhosamente chamado por seus colegas de trabalho de secretary for drugs and thugs, ‘secretário de drogas e bandidos’. A equipe do embaixador Robert S. Gelbard comemorava a notícia de que agentes antinarcóticos americanos e colombianos haviam acabado de capturar um dos maiores nomes do cartel da cocaína de Cali.
Após meses de diplomacia, pedidos insistentes e ameaças de Gelbard, o governo de Bogotá finalmente derrubara um importante membro do tráfico. Isso dificilmente era um golpe incapacitante no maior empreendimento criminoso do mundo. O chefe dos chefes, o cabeça do cartel, permanecia à solta e sob a proteção, ao que tudo indicava, das mais poderosas forças políticas colombianas. Mesmo assim, Gelbard e sua equipe ousavam ter esperanças de que o cartel de Cali poderia ser desmantelado.”
O chefe dos chefes era Miguel Rodríguez Orejuela, irmão mais novo de Gilberto e figura maior dentro do cartel. E após a prisão de Gilberto, ele delegou mais tarefas a Salcedo, que, afinal, era o chefe da segurança. Dentre as tarefas estava matar um companheiro que poderia complicar ainda mais os negócios. Esse foi o limite de Salcedo, que decidiu sair. Porém, sair não era exatamente simples. Como chefe da segurança, Salcedo sabia demais. Se deixasse o cartel, morreria. E não só ele, mas sua família também.
Medo de morrer
Então, ele decidiu contar com a ajuda dos Estados Unidos, já que grande parte da polícia, dos políticos e do poder judiciário estavam na folha de pagamento dos “Cavalheiros de Cali”. Assim, Salcedo encontrou Feistl e Mitchell. Com um cuidado extremo –– se Miguel descobrisse sua colaboração com os agentes do DEA, Salcedo era um homem morto, talvez com o mesmo requinte de crueldade com o qual morreu o fazendeiro descrito antes. Dessa forma, como um bom agente duplo, Salcedo delatou os segredos do cartel e planejou a captura de Miguel ao passo em que protegia o chefe e tentava desmantelar os esforços da polícia.
Uma primeira tentativa foi feita, mas sem sucesso. Depois de semanas de planejamento, a grande influência do cartel acabou por proteger Miguel da primeira investida. Salcedo temeu ser descoberto e morto depois disso, mas conseguiu manter a aparente confiança do cartel e continuar o planejamento, dessa vez com maior eficácia. Salcedo entregou o cartel de Cali nas mãos dos agentes estadunidenses em troca de proteção e de um seguro de vida. Por isso, ele usou todo o conhecimento e experiência necessários para ajudar a prender seu chefe, que estava escondido no prédio Buenos Aires (foto), em um bairro afastado do centro da cidade.
Apenas com a prisão de Miguel, Salcedo poderia deixar o cartel e fugir para os Estados Unidos, sob o programa de proteção à testemunha, juntamente com sua família. E no dia 4 de agosto de 1995, com o plano minuciosamente estruturado de Salcedo, Feistl e Mitchell, os policiais invadiram o quarto andar o edifício Buenos Aires e prenderam Miguel Rodríguez Orejuela, assim como boa parte da documentação que incriminava inúmeros agentes públicos que trabalhavam para o cartel.
Salcedo e sua família foram levados para os Estados Unidos sob o programa de proteção a testemunha e ele testemunhou contra os antigos chefes, desmantelando, assim, um dos maiores grupos criminosos do tráfico de drogas do mundo. Acaba ali o cartel de Cali.
Então, ele decidiu contar com a ajuda dos Estados Unidos, já que grande parte da polícia, dos políticos e do poder judiciário estavam na folha de pagamento dos “Cavalheiros de Cali”. Assim, Salcedo encontrou Feistl e Mitchell. Com um cuidado extremo –– se Miguel descobrisse sua colaboração com os agentes do DEA, Salcedo era um homem morto, talvez com o mesmo requinte de crueldade com o qual morreu o fazendeiro descrito antes. Dessa forma, como um bom agente duplo, Salcedo delatou os segredos do cartel e planejou a captura de Miguel ao passo em que protegia o chefe e tentava desmantelar os esforços da polícia.
Uma primeira tentativa foi feita, mas sem sucesso. Depois de semanas de planejamento, a grande influência do cartel acabou por proteger Miguel da primeira investida. Salcedo temeu ser descoberto e morto depois disso, mas conseguiu manter a aparente confiança do cartel e continuar o planejamento, dessa vez com maior eficácia. Salcedo entregou o cartel de Cali nas mãos dos agentes estadunidenses em troca de proteção e de um seguro de vida. Por isso, ele usou todo o conhecimento e experiência necessários para ajudar a prender seu chefe, que estava escondido no prédio Buenos Aires (foto), em um bairro afastado do centro da cidade.
Apenas com a prisão de Miguel, Salcedo poderia deixar o cartel e fugir para os Estados Unidos, sob o programa de proteção à testemunha, juntamente com sua família. E no dia 4 de agosto de 1995, com o plano minuciosamente estruturado de Salcedo, Feistl e Mitchell, os policiais invadiram o quarto andar o edifício Buenos Aires e prenderam Miguel Rodríguez Orejuela, assim como boa parte da documentação que incriminava inúmeros agentes públicos que trabalhavam para o cartel.
Salcedo e sua família foram levados para os Estados Unidos sob o programa de proteção a testemunha e ele testemunhou contra os antigos chefes, desmantelando, assim, um dos maiores grupos criminosos do tráfico de drogas do mundo. Acaba ali o cartel de Cali.
------------------------------------------------------------------fonte JORNAL OPÇÃO
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