Pernambuco tem um histórico de greves de policiais desastrosamente
conduzidas. Em julho de 1997, uma greve que durou doze dias deixou as
ruas do Recife à mercê da criminalidade. O então governador, Miguel
Arraes, solicitou apoio das Forças Armadas e foram enviados para o
Estado 1.030 homens do Exército, com veículos blindados. No período da
paralisação da polícia, houve setenta assassinatos, catorze postos
policiais foram depredados, seis incendiados. Um soldado morreu com um
tiro na cabeça, quando atuava em um assalto. Quatro anos depois, o
Exército precisou voltar às ruas para socorrer os pernambucanos, no
governo Jarbas Vasconcelos (PSDB). Os oficiais que haviam conduzido a
primeira greve negociavam um adiamento da mobilização. Os praças, no
entanto, cobravam aumento imediato do piso de 500 para 900 reais. Diante
do impasse, os PMs marcharam, armados, até a Praça da República, onde
fica a sede do governo. No dia mais tenso da mobilização, dois grupos de
policiais militares se enfrentaram com tiros.
O pesquisador José Vicente Tavares, professor da UFRGS, dedicou-se a
monitorar greves policiais desde a redemocratização. De tão recorrentes
as demandas, acredita ele, greves desse tipo devem ser encaradas como
uma crise estrutural da segurança pública. “O salário é a ponta do
iceberg. Essas greves usam conjunturas favoráveis, como eleições ou Copa
do Mundo, mas há uma crise institucional nas polícias”, afirma.
A repetição de movimentos grevistas nas forças de segurança favoreceu
o surgimento de uma bancada de policiais nos Legislativos federal,
estadual e municipal. Ao fim, esses movimentos serviram para impulsionar
pretensões eleitorais. Mas, no poder, os sindicalistas-grevistas não
contribuíram para amenizar os problemas que as paralisações de policiais
causam nas ruas. “Greves policiais não são um problema deste ou daquele
governo. Temos que encarar como uma questão social e política. Houve um
incremento na presença de agentes das mais variadas corporações no
Legislativo, mas as paralisações ainda ganham contornos dramáticos”,
afirma Tavares.
Paralisação nacional – Segundo o presidente da
Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol),
Jânio Gandra, que lidera o movimento, o protesto de quarta-feira será feito para
cobrar “melhorias na segurança pública”. “A população deve ser
compreensiva com o movimento”, diz Gandra. Não será fácil obter
aprovação popular se as cenas de Pernambuco se repetirem. E é evidente
que a mobilização nacional, e o momento escolhido para a manifestação,
tem mais relação com salários do que com combate ao crime.
No Rio de Janeiro, os policiais civis penduraram em frente à Chefia
de Polícia um grande cartaz lembrando ao governador Luiz Fernando Pezão
que “a decisão é dele”. Os agentes, que reivindicam a incorporação ao
salário de uma gratificação de 850 reais, decidirão em assembleia na
próxima quarta-feira, no Clube Municipal, na Tijuca, se haverá
paralisação em todas as delegacias do Estado. De acordo com o presidente
do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro (Sindpol),
Francisco Chao, a incorporação da gratificação vem sendo discutida com o
governo do estado desde o ano passado. Em abril, a categoria
estabeleceu um prazo, que se esgotou na última quinta-feira, para que o
governador Luiz Fernando Pezão apresentasse o projeto de incorporação na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O projeto, no
entanto, não foi levado aos deputados. Segundo o Sindpol, o salário
inicial bruto de um agente é de cerca de 4.500 reais, incluindo a
gratificação Delegacia Legal. Com os descontos, o valor líquido cai para
3.500 reais. O ganho de um delegado no início da carreira, segundo
planilha do Sindpol, é de 15.000 reais.
No Rio a arapuca está armada para Pezão, pré-candidato do PMDB ao
governo: a Polícia Militar está pronta para, em caso de vitória dos
colegas civis, deflagrar imediatamente um movimento reivindicatório. Ou
seja: se Pezão não atender, complica-se com a Civil; se ceder, fica na
mão dos militares.
PEC 300 – Na greve de 2012, como na de agora, a meta
nunca alcançada pelos grevistas é a PEC 300 – que, em resumo, equipara
os salários dos policiais de todo o país ao da PM do Distrito Federal,
atualmente na casa dos 4.200 reais. Cada estado, é verdade, tem uma
realidade econômica e um orçamento público próprios, com limitações e
tamanhos diferentes. Acontece que, para surpresa – apenas – de quem não
acompanha a novela desde o início, todos os Estados tiveram, há quatro
anos, uma promessa de socorro para implantar a realidade salarial da
capital. Fazer da PEC 300 uma realidade foi compromisso de campanha de
Dilma Rousseff, pois, justamente pelas diferenças entre os estados, é
necessário que a União complemente os salários nas unidades da federação
mais estranguladas.
A PEC deixou de ser prioridade tão logo a presidente subiu a rampa do
Planalto. Agora, quando está mais perto de descê-la do que em qualquer
momento dos últimos quatro anos – como indicam as últimas pesquisas de
intenção de voto – Dilma tem algumas contas a fazer. Uma, aritmética,
diz respeito ao quanto custaria levar à frente a equiparação,
comprometendo mais uma fatia do orçamento da União. A outra, estratégica
e política, leva em consideração os efeitos dos levantes nos estados.
fonte http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/governadores-sob-pressao-policiais-planejam-paralisacao-nacional-na-quarta-feira