Em cidades com elevado índice populacional, os prefeitos de Águas Lindas, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso convivem com o caos herdados no último dia 1º, quando tomaram posse, situação considerada dramática em diversas áreas, principalmente infraestrutura, educação, saúde e salários atrasados dos servidores.
O surgimento das chuvas, nas últimas semanas, serviu para expor ainda mais os graves problemas sociais vividos pelas comunidades destas cidades goianas da Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno do Distrito Federal (Ride).
Andando pelas ruas e avenidas das cidades, observa-se que a água contribuiu para destapar buracos, aumentar erosões, produzir goteiras e a deteriorar móveis em prédios públicos, além de enferrujar veículos e equipamentos. Há dificuldades em todas as áreas da administração: danos ambientais, falta de iluminação pública, cadeiras nas escolas, remédios nas unidades de saúde.
Nos municípios onde os prefeitos não foram reeleitos ou não fizeram sucessores, a situação é dramática, de abandono, de desrespeito ao patrimônio público, de total irresponsabilidade com a gestão.
Os novos prefeitos reclamam das dívidas atrasadas, com servidores, fornecedores, empreiteiros e prestadores de serviços, falta de dinheiro no caixa municipal, restrições no Cadastro Único de Convênios (Cauc), o que provoca uma grave consequência, a de não poder receber recursos públicos. Há queixas também em relação à rede de saúde sucateada, a educação desestruturada, além de maquinário imprestável.
O descaso das administrações nas prefeituras goianas proporciona irritação ao governo do Distrito Federal, já que as demandas dessas cidades, principalmente em saúde, recaem nas unidades da Capital da República. De um total de pacientes de fora do DF atendidos nas emergências das unidades de saúde de Brasília, 95% vêm dos municípios goianos. Os mais procurados são o de Santa Maria e do Gama, que recebem moradores do Novo Gama, Valparaíso, Luziânia e Cidade Ocidental.
Nas cidades goianas vizinhas ao Distrito Federal, os novos prefeitos tentam contornar o drama, adotando medidas emergenciais, buscando, com o apoio da população, minimizar os graves problemas administrativos herdados. "Encontramos problemas sérios. Estamos tentando administrar o caos", ressalta o prefeito de Águas Lindas, Osmarildo Alves de Souza (PTB), conhecido como Hildo do Candango. Já no primeiro dia, ele descobriu que os documentos da frota municipal estão sem pagamento e que apenas uma caminhonete tem mais de R$ 27 mil em multas.
Ainda em Águas Lindas, a maior parte dos carros e das máquinas na garagem municipal está sem condições de uso. O cúmulo são três niveladoras Patrol, ano 2009, cada uma delas avaliada em R$ 800 mil, todas estragadas ou desmontadas. O custo estimado para colocar toda a frota e o maquinário em condições de uso é de R$ 1 milhão. Geraldo Messias (PP) foi o prefeito na gestão passada.
Em Valparaíso, a prefeita Professora Lucimar Nascimento (PT) diz ter encontrado uma situação crítica e adversa do que foi informado em relatório da gestão anterior. Segundo o documento, 90% da frota estava em boas condições. "Quando assumi o cargo, verifiquei que 90% estão sem condições de rodar. Isso aqui é um ferro-velho", diz a prefeita. Leda Borges (PSDB) exerceu o mandato anterior de prefeita.
Problemas com maquinário são recorrentes em Luziânia, Santo Antônio do Descoberto e Novo Gama. O prefeito Everaldo Vidal (PPL), mais conhecido como Everaldo do Detran, de Novo Gama, encontrou no pátio veículos desmontados, um caminhão limpa-fossa carregado e com o motor fundido, e até uma ambulância sem o propulsor. João de Assis Pacífico (PSDB) deixou a prefeitura, acusado de transferir uma "herança maldita".
Em Santo Antônio do Descoberto, veículos antigos estão sendo utilizados para prestar serviços à comunidade, já que não há novos. O prefeito Itamar Lemes (PDT) deu ordens ao secretariado para conter gastos e utilizar o equipamento e maquinário antigo. David Leite (PR) entregou o cargo de prefeito em 1º de janeiro.
Em Luziânia, o prefeito Cristovão Turmin (PSD) está assustado com os buracos existentes na cidade, o que tem prejudicado principalmente o trânsito. "Foram gastos mais de R$ 200 mil na tentativa de fazer o desvio do escoamento de águas pluviais, no centro da cidade, mas o serviço está perdido, um exemplo de desperdício do dinheiro público." Célio Silveira (PSDB) encerrou o mandato de prefeito.
Educação e saúde, situação dramática
A população acompanha a triste realidade vivida pelo Hospital Regional de Luziânia, que já foi referência no Entorno do Distrito Federal. A unidade tem apenas um paciente internado e só consegue responder por atendimento mais simples, como suturas e pequenas emergências. O hospital tem capacidade para internar até 300 pacientes por mês, mas, ano passado, manteve média de 20 a 25, por falta de estrutura adequada. Carece até mesmo de macas, camas e colchões, além de estar com problemas em vários equipamentos médicos. "As unidades de saúde estão sucateadas em estrutura e equipamentos", admite o secretário de Saúde, Watherson Roriz de Oliveira.
Em Águas Lindas, o drama na área de Saúde permanece, já que o hospital regional em construção está com as obras paralisadas, o que leva os pacientes a buscarem socorro nas unidades do Distrito Federal. "Se o caso é mais sério, já orientamos o pessoal a procurar Brasília. É muito ruim isso, mas não tem jeito", diz o vice-prefeito Luiz Alberto Giribita. Das 43 escolas da rede municipal da cidade, apenas cinco estão em condições de receber os alunos de maneira adequada. "Temos escolas com problemas de estrutura, como goteiras e rachaduras nas paredes, sem as mínimas condições de receber as crianças", diz o secretário Silvério Correa.
Em Valparaíso, é crítica a situação das escolas públicas municipais. Do total de 22 mil alunos, 2 mil a 3 mil não têm condições de retomar às aulas, devido à precariedade e falta de vagas nas escolas. "Nossa cidade não tem um número de escolas suficiente para atender a demanda", diz a prefeita Professora Lucimar Nascimento, para ressaltar que os prefeitos anteriores não priorizaram a construção de novas unidades escolares.
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