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Em fotografia de 2012, mulher é atendida pelo médium João de Deus em um espaço público da Casa de Dom Inácio de Loyola — Foto: Getty Images
Depois das denúncias contra o médium João de Deus e a prisão dele, o número de pessoas que procuram informações sobre mediunidade e atendimentos de cura na Federação Espírita Brasileira (FEB), com sede em Brasília, não para de crescer. A informação é do vice-presidente da FEB, Geraldo Campetti.
Para ele, o que ocorreu em Abadiânia (GO) é uma oportunidade que deve ser usada para esclarecer o papel de um médium. Segundo o espiritismo, o médium é um ser humano comum e qualquer pessoa tem mediunidade.
"Basta desenvolvê-la de maneira adequada", diz Campetti. De acordo com o vice-presidente da FEB, o problema é quando se confundem "os valores materiais com o dom espiritual".
"A vaidade é responsável pelo maior índice de fracasso dos médiuns."
Campetti, que visitou a Casa Dom Inácio de Loyola no entorno do DF e conheceu João de Deus nos anos 1980, afirma que presenciou cirurgias com cortes e percebeu a força mediúnica do líder do local. Mas explica que a mediunidade pode ser perdida, principalmente se ela estiver relacionada ao personalismo e a vaidade.
"João de Deus não é espírita".
Em uma nota pública, a FEB afirma que "o Espiritismo orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, apenas com a presença do médium e da pessoa assistida. Não recomenda, portanto, a atividade de médiuns que atuem em trabalho individual, por conta própria. Estes não estão vinculados ao Movimento Espírita, nem seguindo sua orientação".
A Casa Dom Inácio de Loyola e João de Deus não são vinculados à Federação Espírita Brasileira.
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Atendimentos na Casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia, Goiás, começaram sem João de Deus na quarta-feira, 12 de dezembro — Foto: Murillo Velasco/G1
Dom da cura
O vice-presidente da FEB diz que as cirurgias espirituais realizadas com cortes, são cada vez mais raras. "Nas casas espíritas, integradas ao Movimento Espírita, há o atendimento espiritual e o trabalho da terapêutica espírita. Não existem atividades voltadas para a atuação de médiuns que realizem cirurgias espirituais com corte, que atuem individualmente, nem que sejam médiuns principais ou privilegiados", afirma.
"Evitamos o personalismo que leva à vaidade."
Se para os médiuns o alerta é não se deixar levar pela vaidade, para quem busca atendimento a orientação é perceber que a cura do corpo não é o principal. Segundo Campetti, "não há cura imediata, a cura é consequência".
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A apresentadora Oprah Winfrey conversa com o médium João de Deus sob uma árvore na Casa Dom Inácio de Loyola — Foto: Rafaela Céo/G1
"A doença não está no corpo, está na alma."
"A pessoa que busca uma casa espírita é porque tem necessidade. Quem tem o dom precisa usá-lo com respeito e sem violar esse recurso", afirma Campetti.
Sem ritos
A Federação Espírita Brasileira reúne 15 mil centros espíritas no país que é hoje o que tem o maior número de instituições que seguem a doutrina no mundo. Segundo o Censo de 2010, 3,8 milhões de brasileiros são espíritas declarados e 40 milhões se dizem simpatizantes.
Geraldo Campetti lembra que muitas pessoas são médiuns sem ser espiritas. "Pode ser protestante, católico, evangélico ou seguir as religiões africanistas", explica ele ao dizer que a diferença é que o espiritismo estuda, sistematiza, e cria métodos para praticar a mediunidade baseada em Allan Kardec.
"O espiritismo estuda essa comunicabilidade entre os mundos."
No espiritismo também não há ritos, vestimentas, hierarquia ou sacerdócio. Por isso, para a FEB a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, onde João de Deus fazia os atendimentos espirituais não é uma casa espírita.
De acordo com a federação, a casa, ou centro espírita, deve seguir alguns princípios:
Ser um lar que acolhe e consola;
Ser um templo dedicado às questões espirituais e à oração;
Ser uma escola para a alma, porque ensina a viver mensagem de Jesus, e para o intelecto por meio de estudos e cursos permanentes;
Ser uma oficina de trabalho, baseada na caridade e no propósito de fazer bem ao próximo;
Ser um hospital onde a terapêutica é a oração e o passe – uma transfusão energética onde o médium usa o seu magnetismo para auxiliar as pessoas que buscam ajuda.
O médium, no espiritismo, segue preceitos e diretrizes onde "faz uma renúncia de si mesmo", diz Campetti. Além disso, nas casas, não há um médium único ou principal, mas uma equipe de trabalho.
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João de Deus se entregou à polícia no domingo, 16 de dezembro — Foto: Reuters
Segundo a FEB, cabe ao Poder Judiciário o julgamento de João de Deus. Mas o uso da mediunidade confere responsabilidade a quem pratica o dom.
"Quando a pessoa se desvia do caminho, pode perder a assistência do plano superior."
"Não devemos confundir o sagrado com o profano", afirma o vice-presidente da FEB. Para ele, o trabalho nas casas espíritas deve ser realizado em benefício do semelhante e sem interesse de recompensa – é um trabalho de caridade.
"O que está acontecendo é um alerta, uma chamada de atenção. Todos somos seres humanos, ninguém está livre de uma queda, mas é preciso deixar que coisas passageiras, temporárias, não interfiram na nossa conduta", diz ele.
"Não temos direito de julgar ou condenar, mas não podemos passar a mão na cabeça – por nossos erros ou pelos erros dos outros."
Veja mais notícias sobre a região no G1 DF.
DENÚNCIAS CONTRA JOÃO DE DEUS
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