A família do menino Wender Cauã Lopes de Souza, de 11 anos, que foi baleado em outubro do ano passado enquanto ia para a escola em Formosa, cidade goiana no Entorno do Distrito Federal, luta para manter o tratamento do garoto e amenizar as dores. A irmã dele, Echiley Vitória Lopes de Jesus, de 8, também foi atingida por um tiro e não resistiu.
Segundo a mãe das crianças, Adriana Lopes de Souza, de 34 anos, Wender Cauã, que já passou por duas cirurgias, ficou paraplégico e ainda sofre com várias sequelas. Por isso, ele precisa de tratamentos com diferentes especialistas.
“A bala acertou o baço, a 1ª e a 5ª vértebra da coluna. Depois disso, ela andou no corpo e ficou alojada no pulmão. Com isso, um dos lados parou de funcionar e hoje ele respira apenas com um. Meu filho demanda cuidados em tempo integral, mas felizmente ele está vivo. A dor de perder a Echiley já é grande demais”, afirmou aoG1.
A troca de tiros que feriu os irmãos aconteceu no dia 27 de outubro do ano passado, na Avenida Senador Coimbra. Echiley e Wender Cauã seguiam para a escola acompanhados de um irmão mais velho, de 16 anos, quando ficaram no meio de um tiroteio entre ocupantes de uma Mitsubishi L200 e de um VW Gol. Apenas as crianças foram atingidas pelos tiros e o adolescente escapou ileso. Quatro envolvidos no crime foram detidos.
Echiley não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Já Wender Cauã foi socorrido e recebeu os primeiros socorros na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Formosa. Em seguida, foi levado por um helicóptero do Corpo de Bombeiros até o Hospital de Base, em Brasília. Lá passou por uma cirurgia e permaneceu 15 dias internado.
Depois, recebeu alta e foi para casa, mas voltou a passar mal e retornou à unidade. Desta vez, ele foi submetido à segunda cirurgia, mas, segundo a mãe, os médicos disseram que não foi possível remover a bala.
“Estamos fazendo o acompanhamento e os médicos dizem que a situação é bem complicada. Mas, se ele continuar assim, também é um risco, pois, se a bala se mover, ele pode ter uma hemorragia interna e não resistir. Por isso, o caso dele é delicado, mas tenho fé de que a equipe lá vai conseguir uma boa solução”, afirmou Adriana.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal, responsável pelo Hospital de Base, informou que Wender Cauã tem recebido o tratamento necessário para a sua recuperação. Segundo a nota, o caso é acompanhado pela equipe torácica da unidade e o procedimento será realizado assim que possível. “Uma equipe de especialistas estuda o caso do paciente para que a cirurgia seja realizada o quanto antes”, destacou a secretaria.
Mãe luta para manter tratamentos e amenizar
sequelas em Wender (Foto: Fernanda Borges/G1)
A mãe diz que também conseguiu vaga para que o filho receba tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, onde deve ter acompanhamento de fisioterapeuta, psicólogo e nutricionista.
“Tudo isso será muito importante para ele, pois a situação ainda é bem difícil. Às vezes, ele ri, às vezes chora, tem muitas dores. Não consegue mais fazer as fezes e urinar espontaneamente e eu tenho que instalar as sondas e fazer lavagens. Assim, ele está sofrendo muito ainda, mais esses tratamentos vão ajudá-lo”, destacou a mãe.
Dificuldades
Agora a maior dificuldade, segundo Adriana, é em relação ao transporte para levar o menino de Formosa até Brasília, já que são cerca de 65 km. “Não temos carro para isso e ele não pode andar de ônibus, pois há riscos para a coluna dele. A Prefeitura de Formosa nos auxiliou para irmos até a última consulta, mas disseram que temos que apresentar um ofício sempre que precisarmos levá-lo até o hospital, mas que nem sempre isso será garantido”, disse.
Por conta das condições do filho, Adriana, que trabalhava como auxiliar de produção, precisou abandonar o emprego. Com isso, a única renda da família, que tem oito pessoas no total, vem de um bico feito pelo marido dela, Nilson da Silva Pereira, de 29 anos.
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“Ele está entregando pizzas e ganha R$ 40 por noite. Mas temos muitos gastos com os remédios do Cauã, que não são fornecido na rede pública, e com a locomoção para o tratamento dele. Sem contar que temos os nossos outros filhos e todos precisam se alimentar. Por isso, o jeito é pedir ajuda”, afirmou.
A coordenadora do Programa Melhor Em Casa da Prefeitura de Formosa, Mayane Rosolen, disse ao G1 que a família é assistida desde a época do crime e que oferece o transporte para o tratamento do menino. “Esse auxílio sempre esteve disponível, mas a mãe disse que estava recebendo ajuda e não precisava. Mas agora, se ela não está mais conseguindo, basta falar com a nossa equipe que faremos o possível. O caso dele é bem sério e sabemos que ele precisa manter o tratamento”, afirmou.
Ainda segundo Mayane, toda semana uma equipe do programa visita Wender Cauã. “Ele recebe o leite especial da prefeitura, mas infelizmente não temos todos os remédios de que ele necessita. Mas estamos à disposição para ajudar a família no que for necessário, basta que eles nos informem que prestaremos toda a assistência que pudermos”, garantiu.
Echiley Vitória, de 8 anos, morreu em tiroteio em Formosa, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Investigação
A Polícia Civil investigou o tiroteio, prendeu três jovens e apreendeu um menor de 17 anos.Câmeras de seguranças de um posto de combustíveis registraram a discussão entre os envolvidos no crime. O tiroteio aconteceu minutos depois, em uma avenida próxima ao local.
“Durante a reprodução simulada do crime, o motorista da caminhonete confessou que foi ele quem atirou. Em razão do posicionamento dos veículos, concluímos que foi ele mesmo quem atirou contra as crianças”, disse ao G1 o delegado responsável pelo caso, Vytautas Fabiano Silva Zumas.
Apesar da confissão, segundo o delegado, os três adultos foram indiciados por três tentativas de homicídio, sendo elas a de Wender Cauã e a dos dois ocupantes do carro oposto ao que estavam. Por causa da morte de Echiley, eles ainda respondem ao crime de homicídio qualificado por motivo fútil, por gerar risco de perigo comum para as pessoas que ali estavam e por impossibilidade de defesa para a vítima. Já o menor cumpre pena socioeducativa.
Segundo o delegado, os três adultos seguiam presos na Casa de Prisão Provisória de Formosa nesta sexta-feira (5) à disposição da Justiça. O adolescente permanecia internado no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) da cidade.
Para a mãe, nada vai amenizar a saudade que sente da filha e a dor pelas sequelas deixadas em Wender Cauã, mas ela espera que os envolvidos permaneçam presos. “O que eles fizeram foi muito grave e poderiam ter matado mais gente. A falta que a minha filha nos faz é enorme, não tem um dia que a gente não lembre dela, mas sei que ela descansou em paz. Agora o meu filho segue sofrendo”, lamentou Adriana.
fonte G1